quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

sábado, 11 de dezembro de 2021

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Estória de botija




Estória de botija 

Tem vezes que o ser humano
Sabe que nasceu sem sorte
Quando se fala em riqueza
É como faca sem corte
Sem o tesouro encontrar
Sua sina é trabalhar
Do nascer até a morte
 
Trago um pequeno recorte
Um causo de relevância
Contado por minha avó
Nas estórias da infância
De um sonho inquietante
Por demais interessante
Dada toda circunstância
 
Muito brilho e cintilância
No sonho uma aparição
Informando de botija
Dando a localização
Uma alma de outro mundo
Esvaindo num segundo
Começa a consumição
 
Sente bastante aflição
Medo e curiosidade
Desenterrar a botija
Coisa de tal gravidade
Aquilo lhe deu insônia
A proposta era medonha
Dava até ansiedade
 
Sem muita credulidade
Tratou logo de esquecer
Era só um sonho besta
E voltou a adormecer
Lá vem novamente a alma
Informando com mais calma
Fazendo vovó tremer
 
Estava o sol pra romper
E o sonho se repetindo
Dando conta da botija
A aparição instruindo
Com a hora e o lugar
Onde tinha que cavar
Mas também lhe prevenindo
 
Vovó ainda dormindo
Naquele sonho sonhado
Todas orientações
Já tinha memorizado:
“Ao começar a cavar
Jamais podia parar
Até ter desenterrado”
 
“E que tivesse cuidado
Com visage e aparição
Que pra tirar a botija
Tinha essa condição
Não ter um pingo de medo
E também fazer segredo
Pra não chamar atenção”
 
“Sabendo de antemão
Que o dono vai intervir
Pra proteger a botija
Se caso não conseguir
O ouro vira em torrão
A prata vira carvão
Se por medo desistir”
 
Até vovó decidir
Passou quase oito dias
Desenterrar a botija
O interesse crescia
O medo se acabando
E ela se imaginando
“Rica da noite pro dia”
 
Pondo fim nessa agonia
E resolvendo encarar
Perto da meia noite
Dirigiu-se ao lugar
Já no meio do caminho
Passou por ela um velhinho
Caminhando devagar
 
Passou sem nada falar
E vovó ficou cismada
Um velho desconhecido
Sozinho de madrugada
Numa noite tão escura
Aquela triste figura
Seria alma penada?
 
Vovó já arrepiada
Com medo de assombração
Foi logo apertando o passo
Com a enxada na mão
Procurar na quixabeira
Começando a tremedeira
Quando aparece um anão
 
Deu um frio no coração
Ver aquela personagem
Mas vovó passou direto
Surpresa com a coragem
Lembrando o ensinamento
Que sobre aquele momento
Teria muita visagem
 
Sentiu mexer na folhagem
E deu um frio na espinha
Poderia ser uma onça
Perigo ali sozinha
Do mato veio um jumento
Com um urro agourento
Que vovó ficou durinha
 
Mas continuar convinha
Segue em frente não recua
Muitas sombras no escuro
Na intermitência da lua
Avistando a quixabeira
Solitária na clareira
Ali vovó se situa
 
Mais coragem que possua
Em dada situação
Desenterrar a botija
É indigesta missão
Se conseguir fica rica
Mas a coisa se complica
Com medo de assombração
 
Pegou logo o enxadão
E começou a cavar
Já tava ficando fundo
Já perto de encontrar
Uma luz azul intensa
Na escuridão suspensa
Começou se aproximar
 
Vovó pegou a rezar
Quase toda arrepiada
Apresou a cavação
Quando surge na estrada
No meio da treva espessa
Um cachorro sem cabeça
Com uma velha montada
 
Ao levantar a enxada
Contra aquela aparição
Amarela de terror
Desviou a atenção
Daquela regra tão rija
Que pra tirar a botija
Só coragem e oração
 
Com aquela reação
A luzerna se apagou
O cachorro sem cabeça
Como que evaporou
Pra desgosto de vovó
A botija virou pó
O encanto se quebrou
 
Essa estória ela contou
Como tantas que contava
Com tanta convicção
Que chega o olho brilhava
São curiosas estórias
Que guardamos na memória
E a infância embalava
 
E a gente escutava
Dormia morrendo de medo
Se enrolava na coberta
Sem deixar de fora um dedo
Estória de assombração
Se era verdade ou não
Ninguém sabe, é segredo
 
 
07/12/2021


sábado, 4 de dezembro de 2021

Cordel da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Euclides da Cunha - 140 anos de fé e missão

 







E à Deus inspiração
Para contar em cordel
Com respeito e atenção
Para a geração vindoura
Uma história inspiradora
Sobre amor e comunhão
 
Floresce nesse sertão
A história que endossa
Trajetória que mantém
Augusta Paróquia, Nossa
Senhora da Conceição
Plantando fé e devoção
A cristandade remoça
 
Esse cordel se esboça
Em muitas informações
Desde que nasceu o Cumbe
Povoando estes rincões
Nasce também a Igreja
Que na fé o amor enseja
A vida nestes sertões
 
Integra a sociedade
Humaniza a nossa gente
Alimenta a cristandade
Faz parte da nossa história
E a sua trajetória
É a mesma da cidade
 
Com cento e quarenta anos
A história da Paróquia
Vem aos seus paroquianos
Do coração de Jesus
Que nosso povo conduz
Nos desígnios Marianos
 
N’Os Sertões Euclidianos
Surge o Cumbe do Major
Do Termo de Monte Santo
Com a caatinga em redor
Onde a viva natureza
De luz e sol e beleza
Nos deu o lugar melhor
 
Com empenho, fé e suor
A capela se assenta
Em meados da década
Mil oitocent’e setenta
Nesse início da cidade
Com toda propriedade
José Aras apresenta
 
Organizaram leilões
Pra construção da Igreja
Grandes mobilizações
Numa missa celebrada
A comissão foi formada
Para as arrecadações
 
Na construção da Igreja
Padre Vicente Sabino
Na base dessa peleja
A Igreja da Conceição
Começa sua ascensão
A população festeja
 
E o progresso lampeja
É criada a Freguesia
Que por Lei Provincial
Novo tempo inicia
No ano de oitenta e um
Foi um fato incomum
O nosso Cumbe premia
 
No Cumbe já existia
A conhecida capela
Ligada à Massacará
Como a história revela
Assim a primeira igreja
Que essa data festeja
Esse relato interpela
 
A Paróquia foi criada
No ano de oitenta e um
Fica a data registrada
Sendo dezoito de maio
Do seu maior relicário
A fundação celebrada
 
Segue firme a construção
No ano de oitenta e cinco
Tem a sua conclusão
A Igreja é terminada
A Padroeira louvada
Senhora da Conceição
 
Para essa construção
Teve o auxílio divino
Sempre à frente da obra
Padre Vicente Sabino
Do alicerce ao chapisco
O Conselheiro Francisco
O construtor genuíno
 
Capitão José Higino
Sendo ali enterrado
Como o grande fundador
Do Cumbe tem seu legado
Também Major Antonino
Junto com Padre Sabino
Também ali sepultado
 
Para o velho casario
Tinha dois belos pilares
José Aras definiu
Como bonita Igreja
Que de Carrara azuleja
Lápides que lhe sortiu
 
Nova Igreja planejada
No ano de quarenta e cinco
Foi então iniciada
O templo e seu aparto
No ano sessenta e quatro
A obra é terminada
 
A antiga derrubada
Tristemente demolida
A marca dessa história
Sendo assim destruída
Falada por muitos anos
Por todos paroquianos
A tristeza foi sentida
 
População se ufana
Lembrando a primeira missa
Sob um pé de cajarana
Chegando ali pela fé
O novo templo de pé
Um novo tempo proclama
 
Essa história reclama
Conhecer e respeitar
Olhar pra casa de Deus
O lugar pra celebrar
A paz, amor e união
Com Maria em comunhão
A fé em Deus afirmar
 
Nos cento e quarenta anos
As tantas celebrações
Os festejos marianos
As festas da padroeira
Tantas missas domingueiras
Alento cotidiano
 
E chegando neste ano
De grande celebração
Da vida dessa paróquia
Nossa casa de oração
Que nossa fé aprimora
Aos pés de Nossa Senhora
Imaculada Conceição
 
E a ajuda do céu
Pra fazer esse relato
Nos versos desse cordel
Prestar essa homenagem
Construir essa mensagem
Traçar esse painel
 
Foi buscando ser fiel
À história registrada
Da nossa Euclides da Cunha
Com a Paróquia fundada
Pregando a fé e a paz
Na padroeira que faz
Nossa terra abençoada
 
Grande comemoração
Destaca nossa Paróquia
A guardiã deste chão
Nossa Igreja agracia
A luz da Virgem Maria
Senhora da Conceição.                

(Inamar Coelho, 24/11/2021)

Este Cordel foi escrito, a pedido de Tamires, para a homenagem aos 140 anos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Euclides da Cunha, que completa em 2021 140 anos de fé e missão. 

terça-feira, 30 de novembro de 2021

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Sanfoneiro Zé de Loura





 Zé de Loura Nasceu em 1954, conheceu Pedro sertanejo em 1963 quando Pedro tocava em Quijingue. Adquiriu a primeira sanfona em 69 trocando em uma bicicleta, no tempo em que ter uma bicicleta era coisa rara e cara, e ainda recebeu 18 mil cruzeiros de volta. A sanfona era um 48 baixos. O Jovem Zé ficou mais de 3 meses para aprender, autodidata. No mês de junho daquele ano se atreveu a tocar no palco do São João de Quijingue, no final da festa, mostrando para os presente o pouco que aprendeu. Ali começou a trajetória com o povo dizendo que o filho da Loura sabia tocar. Ficou Zé de Loura. Começou tocar profissionalmente com 17 anos, em casamentos e festas de largo.

Foi pra São Paulo em 72 quando já tocava com habilidade. Lá trabalhava como servente de pedreiro, mas sempre com saudade da sua terra, Quijingue, e de tocar sanfona. Participou do Programa do Jegue – tipo de gongo com o relincho do jegue se o artista não fosse bom. Zé não foi Gongado, era bom!. Ali teve o contato com Pedro Sertanejo que lhe deu Palco no famoso forró de Pedro. Lá tocou com sanfoneiro Guidô no forró da Catumbi, com Oswaldinho, Noca do Acordeon e com outros artistas de fama na época. No círculo de amizade com Pedro Sertanejo conheceu Dominguinhos e ficou impressionado com aquele rapaz que Pedro levou do Rio pra São Paulo pra gravar na Cantagalo. Na sua trajetória gravou 1 compacto e 5 LPS.


domingo, 28 de novembro de 2021

sábado, 27 de novembro de 2021

Variante se anuncia


 A pandemia inciada em fevereiro de 2019 segue firme. No Brasil já morreu 614 mil pessoas até este mês. Com a vacinação o número vem caindo e a pandemia arrefecendo. A OMS contabiliza que apenas 76,4% da população brasileira tomou a primeira dose e que apenas 60,4%, pouco mais da metade da população concluiu a segunda dose. Uma nova variante do virus, muito agressiva e de fácil propagação, foi descoberta na Africa do Sul no inicio de novembro. No Brasil parte da população espera e se organiza para o Carnaval e o governo reluta em fechar os aeroportos.


 

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Nativu's do Cumbe


 Singela homenagem ao Tradicional forró andante Nativu's do Cumbe que trabalha arduamente pela manutenção da cultura do forró-pé-de serra no São João de Euclides da Cunha há quase uma década, mas que nesse tempo da pandemia precisou descansar seus instrumentos.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Pane seca do Rei


 

hoje, 23/11/2021, foi notícia em vários veículos de comunicação que o "Carro de Roberto Carlos fica sem combustível, e cantor pega carona no Rio: Cantor teve pane seca em seu Audi porque esqueceu de abastecer o veículo". Essa situação serviu para muitos comentários engraçados sobre a alta exagerada no preço da gasolina.


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Estória de lobisomem.



Estória de lobisomem


Dirijo-me ao leitor
Que a leitura cultiva
Trazendo neste cordel
O labor que me motiva
Na engenharia de versos
Com cordelistas diversos
Que a tradição incentiva

Escolhi uma narrativa
De quand'eu era criança
Um causo de lobisomem
Já perdido na lembrança
Que aproveito pra contar
Neste cordel relatar
Pois a idade avança
 
A memória já descansa
Nem tudo é pra ser lembrado
Aos poucos vamos puxando
Este fio lá do passado
Dos guardados da infância
Encurtando essa distância
Contando em verso rimado
 
O causo aqui relatado
Pra situar o leitor
Deu-se no alto sertão
Com um cristão pecador
Que em noite de lua cheia
Se virava volta e meia
Lobisomem aterrador
 
Nas vilas do interior
Era a lenda recorrente
O causo de lobisomem
Amedrontou muita gente
Em segredo ou cochicho
Acusavam: "vira-bicho"
Qualquer estranho vivente
 
E o medo decorrente
Na mente da garotada
Na noite de lua cheia
A memória era ativada
Chegando dezoito horas
Meninada sem demora
Ficava em casa trancada
 
A maldição relatada
Nos enchia de pavor
E o caso acontecido
Que agora quero expor
Não foi vivido de fato
É lembrança do relato
Do tempo do meu avô
 
Foi um tio quem me contou
Que em uma Lua cheia
Surgiu na beira da serra
Um cachorro sem pareia
Do tamanho d'um jumento
Ele naquele momento
A espingarda tateia
 
O estampido clareia
E faz ouvir pelo ar
O bicho ganhou o mato
Se ouvia o mato quebrar
E daquela aparição
Começou aperreação
Meu tio pegou a contar
 
Logo cedo foi olhar
Pra fazer a vistoria
Não tinha marca de sangue
E nem pegada havia
Nem tinha mato quebrado
O bicho estava encantado
E isso ele bem sabia
 
Então marcou a vigia
No paiol se escondeu
Olhando por uma greta
Assim que anoiteceu
Deixou um bode amarrado
O trabuco carregado
E lá fora era só breu
 
Quando o bicho apareceu
Parecendo que sabia
Ficou olhando de longe
Distante quanto devia
Nos olhos as labaredas
Iluminava a vereda
De imaginar arrepia
 
Longe um cachorro latia
E o bicho correu pra lá
E meu tio ficou na toca
Esperando ele voltar...
Ao amanhecer então
Sentiu falta de um leitão
E viu outro a manquejar
 
Muita gente do lugar
Nessa noite em questão
Tinha notícia do bicho
E da sua aparição:
Teve rondando a janela
Quase a tranca desmantela
Atrás de um pobre pagão
 
Isso chamou atenção
Pois naquela redondeza
Aquele recém nascido
Era um anjo sem defesa
Então fizeram outro plano
O lobisomem tirano
Acharia uma surpresa
 
E com toda esperteza
Só uma ideia fervilha
Um espeto na janela
Pra fazer uma armadilha
Pra quando o bicho voltar
Se ele tentasse entrar
Espetava na virilha
 
E no chão uma forquilha
Com a ponta bem afiada
Para o caso de entrar
Receberia estrepada
Nem sentiria o respiro
Pra dar tempo dar o tiro
Arataca estava armada

Preparada a emboscada
Com todos dentro esperando
Três cabras apreensivos
Com a criança chorando
A mãe toda assombrada
Com seu pagão agarrada
E a noite avançando
 
O bicho chegou uivando
Coisa de arrepiar
O choro da criancinha
Só parecia aguçar
Quando chegou na janela
O espeto na costela
Fez logo o bicho urrar
 
Nem deu tempo atirar
No bicho que em disparada
Deixou um rastro de sangue
Pela beira da estrada
Depois sumiu pelo mato
Restando só o relato
Dessa estória assim contada
 
Bastou só uma espetada
E o bicho debandou
Tudo indica que aquele
Nunca mais se transformou
Mas sempre causava medo
Meu tio contando esse enredo
Com seu tom assustador

Não tem melhor narrador
No prazer da contação
Nossos tios nossos avós
Pra contos de assombração
No aconchego do alpendre
Ouvindo é que se aprende
E se guarda a tradição

E a próxima geração
pela linha sucessória
Com a viva oralidade
Repertório de estórias
De rica imaginação
De verdade ou invenção
Manterá viva a memória

Pra concluir esta história
Para o querido leitor
Informar que o lobisomem
Era só um pecador
Naquela confrontação
Perdeu sua maldição
Teve a luz do criador...

Curioso o narrador
Antes de ir pro além
Deixou-se ver uma marca
Numa costela tembém
Por coincidência infeliz
A vistosa cicatriz
Numa vista por ninguém...
 
 
Inamar Coelho, 22/11/2021