domingo, 12 de abril de 2015

Lembrança de Jorge Amado


Caro amigo e leitor
Do grande baiano amado
Escritor de alto valor
Pelo mundo renomado
Pai de flor e Gabriela
Pela sua vida bela
aqui merece ser lembrado

Letras com sentimento
ao retratar a Bahia
apontou o sofrimento
esbórnia e alegria
das putas, dos deserdados
retratou os condenados
e como tudo principia

Sujeitos de sangue quente
mulheres de cama e cura
mitologia e gente
descendentes da mistura
Jorge Amado no seu tempo
descreveu a contento
sem fazer conjectura

Ao relatar os costumes
consciência e ousadia
o traço não se confunde
língua crua e poesia
o grito ecoa forte
a arte supera a morte
sua voz não silencia

Do homem pouco resta
Se deste ou daquele lado
a arte é o que interessa
e o que ele deixou tá fadado
a redimí-lo das falhas
mas um, sem o outro falha
e tudo pôde Jorge Amado

À dor do povo deu voz
ofendeu a burguesia
à desigualdade algoz
resistência e rebeldia
afirmou baianidade
mestiçagem identidade
deu ao mundo a Bahia

tenda dos milagres narra
de Pedro Arcanjo a trajetória
escritor, malandro, de fé e farra
pardo paisano é sua gloria
Lídio corró – amizade fraterna
Contra o preconceito, luta eterna
Do ojuobá essa é a história

Com a força de xangô
deu à raça primazia
trouxe a língua nagô
e o que o negro sentia
ritos música e dança
fé coragem esperança
personificou a Bahia

Na obra Jubiabá
trouxe o herói idealizado
odisséia em que dará
um grande passo, Jorge Amado
Balduino por excelência
Representou a resistência
E da história, o outro lado

Cercado de orixás
ativismo e anarquia
soube bem representar
tudo o que é a Bahia
grande terra de Oxalá
Gabriela, Jubiabá
onde o Brasil principia

A vida baiana presente
com toda a miséria e grandeza
as peripécias dessa gente
em pastores da noite a certeza
que Jorge Amado conhecia
em essência, da Bahia
toda a magia e beleza

Amado de todos os santos
escritor da maioria
aos pais e mães de santo
verdadeira idolatria
denunciou a realidade
criticou a sociedade
deu ao povo “alforria”

Com a obra do escritor
a educação está em debito
e tudo o que ele deixou
merece de todos o crédito
sua obra é documento
esperemos a contento
no Brasil um maior séqüito

Inamar Coelho 2006

Lieratura Brasileira filha da Portuguesa

Texto solicitado pela colega Elisandra para um projeto com sua turma de ensino médio.

Meu amigo estudante
Peço vossa atenção
Pra falar de uma arte
Que toca no coração
Chamada literatura
Mãe e filha da cultura
Ou irmã de relação.

Pra início de conversa
Saibamos da referência,
Que a litera portuguesa:
Influência por excelência
No inicio do Brasil
A portuguesa serviu
À nova experiência.

Os primeiros escritores
Quase sempre portugueses,
Quando nascidos aqui
De lá eram fregueses,
Estudavam em Portugal
Escreviam coisa e tal
Ao modo dos portugueses.

Mas vamos pra Portugal,
No século 12 o início;
Com a expulsão dos árabes
Na península um reboliço,
Surgem os primeiros escritos
Ainda um tanto restritos.
Assim se deu o início.

O galego-português
Era a língua no momento,
Por Portugal e Espanha
Viver em entrosamento.
A poesia era o forte
Trova, rima e toda sorte
Tudo oral naquele tempo.

Os poemas eram cantados,
Não predominava a escrita;
Instrumentos musicais
Tornava a cena bonita.
Os cancioneiros marcaram
As cantigas que passaram
Da oral para a escrita.

As cantigas de amigo
Vem da arábica cultura:
É o lamento d’uma moça
Com saudade e mágoa pura,
Com saudade do amor
Que foi pra guerra e a deixou
Numa ingrata amargura.

Na cantiga de amor
A voz é do namorado
Que pergunta à sua amada
Por que seu amor é negado.
Tem cantiga de maldizer
De escárnio, e digo a você
É algo a ser estudado.

Agora vou dar um salto
Até o renascimento:
Século 15 e 16
É um novo nascimento;
A poesia toma forma;
Sai o músico entra a norma.
É um acontecimento.

O mundo medieval
Dá lugar ao moderno;
A prosa e o teatro
Com a poesia formam terno:
Surgem as crônicas históricas
Com a eloqüência retórica
Revelam o mundo moderno.

Então surge Gil Vicente
Com seu autos teatrais;
Moralizando e reformando
Em sacadas geniais:
Criticou a falsa gente
O rei, o padre e o ente
O banqueiro e tudo mais.

Os autos de Gil Vicente
Influenciaram aqui;
Suassuna que o diga
Tá vivo pra não mentir
No auto da compadecida
Influência reconhecida
Para ler ou assistir.

Mas não é apenas isso
Nessa época efervescente:
O Classicismo foi o nome
Ou Quinhentismo; influente
Da arte Greco-latina,
Tudo ali se descortina,
Definiu a arte seqüente.

Período das navegações
Também de grandes conquistas;
Surge a divina comédia
Boccaccio e outros artistas;
Os sonetos de Camões
E muitas transformações
Foi a era Classicista.

Portugal entrou pra história
Pelos seus descobrimentos
Por ser a base da Igreja
Com a reforma e seus intentos.
Surge Camões com seu épico:
Os lusíadas, feito inédito
No período dos quinhentos.

Foi a obra literária
Que elevou Portugal;
Afirmou a nacionalidade
Uniu mito com o real;
Divulgou suas proezas
E a língua portuguesa;
Camões foi genial.

Lusíadas é uma epopéia,
Ao padrão de Homero
E ao padrão de Virgílio,
Trabalho rico e sério.
Cantou o povo português
E tudo de uma só vez:
História, mito e mistério.

Divido em 10 cantos
Traz a mitologia,
Junto com a história,
Arte, fé e alegoria;
Afirmou a fé cristã,
Firme num puro afã
Com engenho e maestria.

Precisou que a igreja
Desse a ele permissão
Para publicar o épico:
Era a santa inquisição.
Camões um dia morreu,
Mas ninguém esqueceu:
Hoje é nossa inspiração.

De tudo isso nasceu
A litera brasileira,
No molde foi forjada,
Na litera primeira.
Desde mil’e quinhentos,
Depois do descobrimento
Nossa arte é verdadeira.

Mesmo que influenciada
Pelos costumes de lá,
A nossa literatura
Conseguiu se afirmar:
Tomou a cor local,
Retratou nosso real:
negro, índio, terra e mar.

Assim, caro estudante
Isso que eu digo agora
É só para instigar;
Que pesquise sem demora
Sobre o povo português,
É a hora é a vez
De saber a nossa história.

Inamar Coelho - 2009

Sobre a Ética!


Este texto em Cordel foi escrito para uma atividade do Curso de Especialização em Ensino de Filosofia no ensino Médio pela UFBA.

Cordel sobre ética[i][ii]  (Atividade fórum 1 – Recurso didático para aula sobre ética)

1
Caro leitor amigo
Quero te cumprimentar
Por estar lendo o que digo
Sobre a noção basilar:
Ética, é o nosso assunto
Para entendermos juntos
E as idéias clarear.

2
Vou começar pelo nome
Que se ouve por aí,
Ética coisa do homem
Que logo cedo aprendi
E vou tratar com vocês
Para de uma só vez
Qualquer dúvida dirimir.

3
Do grego vem a noção:
Ética é boa conduta!
Mas preste bem atenção
Pois existe uma disputa
Com a noção de moral
Coisa muito natural:
Uma na outra transmuta.

4
Da Grécia, duas éticas
Com diferentes noções,
Em Roma surge sintética
Unindo as duas, se supõe:
Uma sendo do ato humano
Do ser bom, sem engano,
A outra, moral pressupõe

5
Moral tendo a ver com regra
Da vida em sociedade,
A Ética até a integra
Mas sem fazer paridade:
Ética é pra escolher
Como melhor proceder
Na moral e na verdade.

6
O comportamento ético
Se faz pela consciência
Sendo o mal antiético
Abominável tendência.
Sempre agir para o bem
Nosso e do outro também
É a melhor coexistência.

7
As regras para os costumes
Se traduzem em valores
E pelo que se presume,
Da moral possuidores,
Os homens agem com ética
Numa razão genérica
Entre si cooperadores.

8
Para melhor compreender,
Vou dar um exemplo real
Para ninguém esquecer,
Mais vale o bem que o mal
Sendo a ética a escolha
Que na moral se acolha
A convivência geral:

9
Se um tal médico atua
Sem prejudicar o doente,
Sem fazer falcatrua,
Sendo reto e previdente,
Sem expor o seu problema,
Certamente o seu lema
É com a ética condizente.

10
Mas porém se acontecer
Desse médico se calar,
Se chegar a saber
De outro negligenciar
E matar um paciente
Logo estará conivente
Assim antiético será.

11
Pois a ética se liga
Ao que diz a razão
E o ético se obriga
À tomar uma decisão
Mesmo ante a “ética”
Da profissão médica
Devendo expor o vilão.

12
Muitas vezes a regra
De toda moral vigente
No erro se integra
E se torna incoerente.
Mas se com ética refletir
Só Poderemos agir
De modo conveniente.

13
Pois Ética requer o ato
De constante reflexão
Sobre a culpa e o fato
Que recai da nossa ação:
É sobre o bem e o mal
Mesmo na ação banal
Requer interrogação.

14
O homem e suas ações
Se conduz pela moral
E nas suas relações
Devendo evitar o mal,
Em busca do bem comum
Então de modo algum
A ética será banal        .

15
Ética requer atitude
No outro sempre pensar
Sendo mesmo a virtude
Que devemos divulgar,
Caráter e honestidade,
Sigilo e humildade,
E sempre o bem praticar.

16
Há uma história antiga[iii]
Para ética ilustrar,
Fato que nos instiga
Sobre a ética pensar:
De um homem é a história
Que fugia de uma escória
Que o queria linchar.

17
Pela estrada corria
E um profeta encontra:
Maomé que lhe sorria,
O homem o perigo conta
O profeta que não mente:
Siga a rota à minha frente
E a direção lhe aponta.

18
Assim que o homem vai
“Ele” muda de posição:
Do lugar em que “tava” sai,
Senta em outra direção.
Ele que a mentira abomina
E para o bem se inclina
É interpelado então,

19
Pelos tais perseguidores:
Viu passar por ali alguém?
Todos ameaçadores,
Dele a resposta obtém,
O profeta diz a sorrir:
De quando sentei aqui
Não vi passar ninguém.

20
Sabendo que ele não mente
Se conformam e se vão,
Outra rota diferente
Tomam por decisão,
E o homem foi poupado
E o profeta blindado
Pelo uso da razão.

21
Pela ética o profeta
Contestou a moral
E a regra é correta:
Mentir é algo imoral,
Mas ele disse a verdade
Conforme a veracidade
Da situação atual

22
Ele encontrou uma forma
Cumprindo a regra moral:
Dizer a verdade é a norma
Mas salvar uma vida é legal.
Se ele a regra seguisse
E outra verdade surgisse
Então seria fatal.

23
Pela moral da história
Maomé foi imoral,
Mas sua falta meritória
Foi ética na real:
Procedeu eticamente
Agiu conscientemente
Evitou algo brutal.

24
É a ética kantiana[iv]
Vem da noção do dever
E da liberdade humana
Na forma de proceder,
“imperativo categórico”,
Não tem nada de retórico:
Melhor modo de viver.

25
Para todo ser humano
É um dever geral
Que não aceita o engano
Uma ética pessoal.
Se Para o outro realiza
O que pra si idealiza
Será lei universal.

26
Pois a ética, ( pra findar )
Se funda é no bom senso,
E na conduta exemplar,
pois moral é um consenso,
Já que os valores morais
Vêm de situações sociais
E muda de tempo em tempo.

27
Vou ficando por aqui
Mas saindo satisfeito
Na certeza que acendi
A chama desse conceito:
Da ética tão essencial
Para o bem estar geral
Que se funda no respeito.

28
Pelo cordel abordei
Perdão se não satisfiz.
Esta técnica usei
Por ser a que melhor diz
De modo interessante
Ou pelo menos marcante
Para o tema introduzir.

29
No pouco que destaquei
Se algum erro cometi
Ou então simplifiquei
Na noção que proferi
Então vamos debater
Para dúvida desfazer
E o engano dirimir.

(Inamar Santos Coelho, 07/04/2015)

O objetivo do texto em cordel sobre ética é tematizar a noção de Ética de forma lúdica e alternativa, através da Literatura de Cordel, em busca de tornar a aula de filosofia mais dinâmica e mais interessante, por esta ser uma forma de literatura pautada na oralidade, além de se configurar em um modo diferente de introduzir o tema filosófico e favorecer o debate.

O Texto em cordel será apresentado aos alunos (ou mesmo por eles) e o tema nele contido será “mote” para o debate acerca da ética na contemporaneidade.

O Texto sobre ética, em cordel, visa favorecer a reflexão acerca da noção de ética, enquanto postura reflexiva ante os princípios que direcionam a vida do homem na sociedade, no âmbito da moralidade, - esta enquanto conjunto de regras sociais, - colocando-o face à necessidade de reflexão acerca do que é bom ou não nas ações em relação ao outro.

Poderá ser solicitado aos alunos que retirem do texto as noções de ética implícitas e explícitas e depois solicitar que pesquisem em grupos sobre as noções de ética construídas nas diversas épocas da filosofia.

O Cordel poderá ser publicado num blog criado exclusivamente para que os alunos possam expor suas impressões acerca do tema, bem como resumir os conceitos filosóficos pesquisados, e discutir os mesmos entre eles, buscando relacioná-los ao modo de vida e às relações sociais da conteporaneidade.

Interdisciplinarmente, poderá ser utilizado em oficina de produção literária/filosófica de modo a incentivar os alunos a produzirem cordéis sobre outros temas filosóficos e afins.






[i] Filosofia Medieval, amor e cordel. Disponível em: http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/70/artigo265447-1.asp Acesso em 06 abr 2015

[ii] Ética. http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica Acesso em 06 abr 2015

[iii] BERNARDO, Gustavo. Qual a diferença entre ética e moral. Ano 4, n. 12, 2011. Revista eletrônica do vestibular. UERJ. Disponível em: http://www.revista.vestibular.uerj.br/coluna/coluna.php?seq_coluna=68  Acesso em: 06 abr. 2015.

[iv] O conceito de ética racional. Disponível em: http://www.philosophy.pro.br/etica_racional_kant.htm Acesso em 06 abr 2015




sexta-feira, 3 de abril de 2015

Sobre o fim da àgua

SOBRE O FIM DA ÁGUA


Caro leitor amigo
Quero te convidar
Para pensar comigo
Sobre algo singular
Que afeta toda gente
E não há um vivente
Que não possa concordar

Falo sobre a água
Que está chegando ao fim
E sinto grande mágoa
Pois não afeta só a mim
E o povo reconhece
Mas pouco se enternece
Fica no discurso enfim

Desperdiça sem remorso
Pensando que é ficção
Mas sempre que eu posso
Passo logo o sermão
A água é preciosa
Altamente valiosa
Tome tino e noção

Usam-na pra lavar carro
Para lavar escadaria
Muitos me tiram o sarro
Ou demonstram apatia
Pensando que nunca vem
O dia em que alguém
A vida por ela daria

Outro dia uma professora
Lavava sua calçada
E me lançou a vassoura
Quando foi perguntada
Se a mesma não sabia
Que a água se exauria
Se não estava errada

Fico pensando se ela
Ensina aos seus alunos
Que a água é aquela
Que em tempo oportuno
Vai então chegar ao fim
E então vamos enfim
Buscar água em saturno

É preciso ter cuidado
E sempre economizar
Pra não se sentir culpado
Quando a coisa piorar
A água que lavar roupa
Mesmo que seja pouca
Pra lavar portão servirá

Também aquela água
Usada na hora do banho
Em torrente deságua
Pra descarga é um ganho
Vai no vaso sanitário
Infelizmente é o cenário
 Mesmo que seja estranho

Ao escovar os dentes
Com a torneira aberta
Faz isso muita gente
É uma burrice certa
Litros vão pro esgoto
Como se fosse um aborto
Mesmo com tanto alerta

Banho que leva horas
Tanta água derramada
Quase ninguém colabora
E repete a burrada
Mesmo com tanto apelo
E todo esse pesadelo
Da catástrofe anunciada

Mas um dado interessante
Que nos chama atenção
O que parece chocante
É a nossa condição
Por vivermos no nordeste
E numa seca da peste
De ver rachadura no chão

Por vivemos sem água
Não é grande novidade
e a nossa grande mágoa
É que nossa adversidade
A mídia não dava crédito
E hoje é fato inédito
E pra nós normalidade

Já tomei água barrenta
Da cor de guaraná
Dividida com sedenta
Boiada a pisotear
Para muitos absurdo
Beber daquele chafurdo
Lavar roupa e se banhar

Vi bicho de sede morrer
Sem água e sem comida
Vi plantação perecer
Pela seca atingida
A água sempre faltou
E o nordeste encontrou
Modos de levar a vida

A seca afetou o sudeste
Virou calamidade
E o povo do nordeste
Vive essa verdade
Economia aqui é fato
Sabemos o valor no ato
Água aqui é novidade

O fato é que é preciso
Cuidar da água ou então
Não vai adiantar aviso
No rádio ou televisão
E será o fim da vida
E a calamidade temida
Acometerá a nação

Pelo domínio da água
Poderemos ter guerra
morte, dor e mágoa
e miséria em toda terra
se a água potável acabar
a terra será um lugar
onde a vida se encerra

Vamos juntos pensar nisso
Pra mudar ainda há tempo
E façamos compromisso
De deixar o passatempo
Para desse liquido cuidar
para que possamos pensar
Num futuro sem contratempo

A vocês agradeço
Pela grande atenção
Pensar já é um começo
De mudar a condição
Em que nos encontramos
Para que um dia possamos
Resolvermos tal questão.

Inamar Coelho

2 de Abril de 2015