sábado, 2 de fevereiro de 2019

Resposta à uma provocação




Resposta à uma provocação

Recebi provocação
De um mestre que admiro
Sobre uma senhora tal
Numa espécie de delírio:
Viu jesus na goiabeira
Em desmedida doideira
Que já nem me admiro

A proposta era de humor
Mas pra mim já não consigo
Pra ele terreno fértil
Mas vejo só o perigo
O retorno à idade média
Me envenena a comédia:
À seriedade me obrigo

Em um mês estamos vendo
O desenho do futuro
Uma nação perplexa
Pelo tiro no escuro
Do projeto sem programa
Em um grande mar de lama
Sem apólice de seguro

Em um mês muitos desmandos
Em propostas revogadas
Seleção de aberrações
Indicações complicadas
Na história me embaso
Renovação do atraso
A distopia é fundada

Liberar armas para ricos
Livremente matar pobres
Na cabeça dessa gente
É causa cristã de nobres
O valor da vida humana
Ness’ideia tão tirana
É medida a chumbo e cobre

Na verdade o que importa
É o mercado se salvar
A indústria armamentista
Tem direito de lucrar
Teremos mais homicídios
Menos gente para presídios
Menos crime p’ra julgar

Unir ministérios opostos
É algo de arrepiar
Entregar meio-ambiente
Pro latifúndio explorar
Barrar a reforma agrária
É condenação sumária
Ao futuro alimentar

Explorar a Amazônia
Em pasto e mineração
A tragédia em Mariana
Já não causa comoção
E nem mesmo Brumadinho
Lhe entorna o cadinho
De tal alucinação

É notório e assustador
O festival de asneiras
As medidas absurdas
Que à loucura abeira
Privatizar é a meta
E não é pauta secreta
Como não o é a sujeira

Direitos Humanos: zero
Direitos sociais: negados
Diversidade: um crime
O Brasil está fadado
Ao retrocesso geral
Por um golpe desleal
Pelo interesse privado

Indígenas ameaçados
Minorias fora da pauta
Sem-terra correndo risco
Num governo internauta
Israel e Venezuela
É o tema da novela
Nessa nação incauta

Eleitor manifestoche
Deu início ao surreal
Elegeu o retrocesso
Nesse país tropical
Foi pelo antipetismo
Como um dogmatismo
“Grande acordo nacional”

Temos tema pra comédia
Pra drama e pra terror
A censura e a inquisição
Recuperam seu vigor
É tempo de incerteza
Em que nossa pequeneza
Nos fez este desfavor

Só que nada está perdido
A arte está despertando
E a chama do protesto
Continua flamejando
E o Brasil é um celeiro
Desse labor condoreiro
E assim vamos lutando

Combatendo a boa luta
Contra a alienação
Causando a estranheza
Levantando a questão
Fazendo o povo pensar
Questionar, duvidar
Essa é nossa obrigação

Vou ficando por aqui
Sem perder a utopia
Da igualdade social
Q’ainda verei um dia
Com divisão da riqueza
E com o fim da pobreza
E o povo com moradia

Distribuição da terra
Soberania nacional
Com emprego para todos
Numa democracia real
Sem lugar para o fascismo
Ou mesmo o despotismo
É o que é essencial.

Inamar Coelho, 02/02/2019