quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

HOMENAGEM AOS GOLEGAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGÜíSTICA E ESTUDOS LITERÁRIOS NO CAMPUS XXII

HOMENAGEM AOS GOLEGAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUISTICA E ESTUDOS LITERÁRIOS NO CAMPUS XXII


Neste arremedo de verso
Deixo minha emoção
Da tristeza o reverso
Saudade e gratidão
Pela boa companhia
Que lembro com nostalgia
De todo o tempo passado
De pesquisa e de estudo
De debate e de tudo
Por nós vivenciado

Falo da experiência
Na Pós-Graduação
Tomada de consciência
Da idade da razão
Entre tanta disciplina
De tudo que se ensina
O que fica na saudade
São os momentos felizes
Mais que as diretrizes
Da universidade

Cada professor nos deixa
Indelével sua marca
Mesmo que fique queixa
Isso passa e sempre é parca
Todos serão lembrados
E o exemplo propagado
É assim que acontece
Por isso uma homenagem
Que marque essa passagem
Cada um de nós merece

Adriano Eysen poeta
E também o Professor
Atingiu a sua meta
Sendo o idealizador
Dessa Pós-Graduação
Que nesse nosso sertão
Inaugura a novidade
Lingüística e literatura
Prosa e poesia pura
Vão deixando saudade

Suani também fez parte
Com sua visão além
Com sua divina arte
De organizar também
Foi a força essencial
Que fez o sonho real
Dessa Pós-Graduação
Pulso firme, sagacidade
Tornando realidade
Nossa especialização

Em maio de 2009
Começa a aula com Rita
Criatura que comove
Culta, amável, bonita
Deu a metodologia
Ensinou toda a magia
Da escrita oficial
Suave tal beija flor
Deixou um rastro de amor
E admiração geral

Depois vem Adriano
Com sua lírica moderna
Dando aula declamando
Do passado ou hodierna
Professor sério e sabido
De reputação, temido
Por ser muito exigente
Mas sua aula agradável
E seu lirismo louvável
Sempre cativou a gente

Então surge Braulino
Com sua “filosofia”
Com sorriso de menino
E visão que desafia
É um crítico de plantão
Língua afiada, e então
Divertido e preparado
Da semântica o bê-á-bá
Sem ter muito bla-bla-bla
Deixou o seu recado

Depois Márcio Muniz
(literatura portuguesa)
Não deixou um infeliz
Que não tivesse a certeza
Da grandeza de Camões
Dos lusíadas, os senões
Estão na mente a ecoar
Professor autoridade
De grande capacidade
Que todos vamos lembrar

Aí Márcia, inteligente
Com sentidos e imagens
Dinâmica e competente
A todos pede passagem
E dá seu show sem par
O dom de comunicar
Faz parte de sua lida
E a discussão foi boa
Pois nada acontece à toa
Nessa nossa curta vida

Orlando o professor
Dispensa apresentação
Cara de grande valor
Tem nossa admiração
Seriedade ao limite
É digno que se imite
O seu modo de ensinar
Profundo conhecedor
Do que prega e com louvor
Sapiência singular

Lílian doce e angelical
Com o tema da mulher
Figura excepcional
Merece aplauso de pé
Trouxe à baila a discussão
Da mulher a relação
Com o homem/sociedade
O debate foi intenso
Quando relembro penso
Que tudo deixou saudade

Professora Juciana
(fonética e fonologia)
A doçura te irmana
Às deusas da mitologia
Tão jovem, tão sapiente
Tão doce, tão competente
Que encanta no falar
Contigo nós aprendemos
Que ser amáveis devemos
No nosso lecionar

Edivaldo Conceição
Sentimos a sua ausência
Receba honrosa menção
Professor por excelência
Com experiência pura
Sempre um show de cultura
Com seu dom singular
Perdoado desde quando
Tudo deu certo deixando
Orlando no seu lugar

Gilberto também não veio
Fabrício ficou no lugar
Então convicto receio
Foi melhor, não vou negar
Fabrício é genial
Com seu dom natural
Esbanjando sapiência
Prodígio, mestre sagaz
Domina seu texto assás
Professor por excelência

Sociolinguística Silvana
Deixou bem o seu recado
Hoje ninguém reclama
Que o assunto não foi dado
Falou e deixou falar
E também soube escutar
Na construção do saber
Pessoa apaixonante
De presença marcante
De belíssimo proceder

Suani a professora
Famosa e admirada
Da nossa Pós, genitora
Da lingüística encarregada
De semblante austero
E esconde um mistério
Ser um amor de pessoa
Brilhante e respeitada
Por seus amigos amada
Tal reputação ecoa

Léa, grande surpresa
Aula espetacular
No debate a certeza
Do diálogo exemplar
Seu grande conhecimento
Deixou em nós a contento
A vontade de saber
De modo superior
Demonstrou seu valor
Invejável proceder

Pró Fabíola certamente
Buscou nossa “tradução”
Mostrou-se eficiente
Levou nossa admiração
Doce e meiga figura
Sapiente e de cultura
Fechou com chave de ouro
Por isso deixou saudade
Junto com a amizade
Que de todos vale ouro

Estes nossos professores
Vão deixar muita saudade
Entre birras e amores
Vence amores é verdade
Todos deixam um pouquinho
De nós leva um tiquinho
Nessa breve relação
Obrigado lhes dizemos
Nestes versos expressemos
Toda nossa gratidão

Agora quero deixar
Aos colegas a homenagem
Sem muito me demorar
Foi bela nossa passagem
Nessa pós-graduação
Eu digo de coração
Entre mortos e feridos
Foi uma aventura e tanto
Conflitos deixem num canto
Ou num lugar esquecido

Nessa nossa trajetória
Alguns ficaram na estrada
Para fazerem outra história
Ou mesmo outra caminhada
Eline, Jean e Miguel
Criaturas doces (mel)
Desistiram no percurso
Ivan e também Fernando
Aos poucos foram deixando
Lacuna no nosso curso

Acácia bem pontual
Com jeitinho carinhoso
Escudeira leal
De Fernando, o ditoso
Poeta e orador
Pessoa de grande valor
Crítico e divertido
Pontual e companheiro
Com Acácia o tempo inteiro
Consoante e sustenido

Sara fez parceria
Com Janice desde o início
Demonstrando harmonia
E sem deixar interstício
Só Beto ficou sozinho
Sem Ivan ficou quietinho
Mas sempre bem humorado
De tudo fazia piada
Deixando a turma ouriçada
Com seu ar espevitado

Pires o capitão
Com seu vasto entendimento
Sempre flui a discussão
Pelo seu conhecimento
Luíza sua parceira
De fala doce e certeira
Tom baixo se faz ouvir
Amável e muito bela
Pires junto com ela
Prontos para o devir

Aldimone outra figura
De sorriso cativante
Fez o par beleza pura
Com Fabiane, constante
Duas loiras da pesada
Sorridentes, aplicadas
Amáveis e companheiras
As duas sempre na moda
E nenhuma se incomoda
Quando Beto diz besteira

Outra dupla inseparável
É Mônica e Sandra também
Elisandra tem louvável
E não nega pra ninguém
A sagacidade crítica
A capacidade analítica
E em Mônica a timidez
Junto à inteligência
Também à paciência
A calma e a polidez

Rone ficou ausente
E deixou a sua falta
Garoto bem competente
De capacidade alta
Trabalhando com cordel
O TCC já no papel
Precisou se ausentar
Seu lugar ficou guardado
Sempre muito esperado
Camarada singular

Celma a nossa "francesa"
Educada e popular
Esforçada com certeza
Boa escrita e bom falar
Junto com Adriana
Formando a dupla bacana
Preocupada com o transporte
Mas na hora do vamos ver
Fazia por merecer
Sem nem contar com a sorte

Isabel figura amável
Doce, meiga, singular
De caráter respeitável
E saber espetacular
Sempre com a mala do lado
E o texto estudado
Pronta para o momento
Se nervosa ninguém via
E quem 'tava ali queria
Era o seu conhecimento

Ilza Carla companheira
Sempre uma palavra amiga
Na sapiência certeira
Na oratória há quem diga
Que tens um dom inato
É verdade e é fato
Comigo a dupla era certa
Ilza Carla e Inamar
Só conseguiu “separar”
Uma certa Graça (esperta)

E é Graça justamente
Que merece homenagem
Mulher super competente
Fina, doce e de coragem
Professora renomada
Imitada e invejada
Musa da Pós-Graduação
Seu café deixou saudade
Nosso apreço de verdade
E nossa admiração

Por aqui eu vou ficando
Creio não esqueci ninguém
Nestes versos vou deixando
Meu apreço também
Ao caríssimo Damião
Grande alma e coração
Que sempre atendeu a gente
Nossa* mascote querida
Amigo pra toda vida
Divertido e competente

Cada um do seu jeitinho
Deu sua contribuição
Lembraremos com carinho
Dessa pós-graduação
Foi um tempo especial
Tudo dentro do normal
Entre aluno e professor
A UNEB de verdade
Nossa Universidade
Nosso apreço, nosso amor

Ivete na diretoria
Garantiu o andamento
Marta na secretaria
Todo comprometimento
Marcão peso pesado
Doce Dell do outro lado
E até os vigilantes
Agradeço a cada um
Caso esqueci algum
Foram todos fascinantes

Um ano e meio de encontros
Nunca se fez tanto artigo
Mas, bom em todos os pontos
Tenho essa coisa comigo
Fizemos mais amizades
E vai ficar na saudade
Igual na Graduação
Cada um para o seu lado
E eu vou ficando calado
Tomado de emoção

Saudade é uma palavra
Que encontra tradução
Num bichinho que lavra
Sem pá, nosso coração
Se alimenta de lembranças
E dá a alma esperanças
De um dia saciá-la
Mas o tempo inimigo
Impõe-se como perigo
Por querer sempre matá-la.

Inamar Coelho – 16/11/2010

* Mascote: substantivo feminino -Seguindo o HOUAISS e o AURÉLIO mantenho-o como feminino, mesmo que pela força do uso haja uma tendência para masculinizar o termo. E para garantir a rima.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O que foi feito do natal?

Caro leitor amigo
Peço vossa atenção
Pra falar de uma data
De festa e de emoção
É o dia do natal
Esta data especial
De confraternização
Mas hoje tenho comigo
Que foi mudado o sentido
E sua orientação

No natal é celebrado
De Cristo o nascimento
Que nasceu na manjedoura
Sem pompa nem ornamento
Filho de Maria e José
Concebido pela fé
No divino provimento
Indicado pela estrela
Que reis puderam vê-la
Por todo o firmamento

Hoje tudo tá mudado
O sentido é comercial
É a troca de presente
Consumo e coisa e tal
Inventaram tanta asneira
E um monte de besteira
Que todos acham legal
Papai Noel e presentes
Panetone e peru (gente!)
Até arvore de natal

É algo um tanto doido
Pra gente aqui do sertão
Que no lugar da lareira
Só a trempe do fogão
E esperar papai Noel
No seu trenó pelo céu
Só pela televisão
E nunca chega o presente
Mamãe não engana a gente
Alimentando ilusão

Se papai Noel vier cá
Vai morrer é de calor
Com aquela roupa quente
Feita bem de cobertor
Se subir no meu telhado
Vai cair todo quebrado
Como supõe o senhor
Dado o peso do velhote
E a madeira nem tão forte
Do meu pobre bangalô

A culpa de tudo isso
É da tal televisão
Que na fome de vender
Mantém essa ilusão
Como se o mundo fosse igual
E fosse o mesmo natal
No norte-sul, no sertão
Traz sempre o papai Noel
De luva, bota e chapéu
Seja inverno ou verão

O natal aqui pra gente
Como digo pro sinhô
Difere destes modismos
Que a TV inventou
Nós reza e acende vela
Sem toda essa novela
De rena, e peru, (ho!ho!ho!)
Não carece panetone
Tudo isso tem um nome
É frescura sim sinhô

Tem matuto que se ilude
E cai nessa tentação
Vende vaca, bode e roça
E nem pede opinião
Pra enfeitar o natal
Com árvore e coisa e tal
Como na televisão
E no outro dia, frustrados
Os menino enganados
Entendem a encenação

O esquema é tão cruel
Que ilude as criancinhas
Ingênuas escrevem cartas
Ao papai Noel, tadinhas
Pedem games e bonecas
Bicicletas e petecas
E até roupa novinha
E os pais sem poder ver
As coitadinhas sofrer
Vende até as galinha

Imaginem na África
Esse papai Noel nórdico
E aqui no sertãozão
Com seu carro estrambótico
Entre o povo bem pobre
Que não tem veste nem cobre
É um pensamento insólito
Dessa burra inteligência
Igualar a diferença
Implantando o exótico

Criando o alienígena
Pra explorar o povo
É o natal do consumo
E tal figura um estorvo
A mídia impõe como lei
E o mundo esquece de vez
Adere ao sentido novo
Jesus perde o espaço
Tudo fora do compasso
Capitalismo cega o povo

Esse tal natal moderno
Gestado em sessenta dias
De consumo desregrado
De ilusão e magia
Gulodice e desperdício
Estratégia e artifício
Que culmina num só dia
No dia do nascimento
Condenando ao esquecimento
Jesus José e Maria

Neste dia o mundo para
E se enche de compaixão
No outro dia pouco importa
Se pede esmola um irmão
Pois o natal é consumo
A miséria é o insumo
Dessa globalização
Fome, guerra, pobreza
Do capitalismo a proeza
Natal sem reflexão

A verdade é que Jesus
Nessa comemoração
Fica em segundo plano
Até na religião
Por todo lado é só festa
Ceia, luz, nada mais resta
Tudo é uma curtição
Ilusão e encantamento
Papai Noel é o centro
Roubando toda a atenção

Toda essa fantasia
Move muito dinheiro
E o pobre é quem mais compra
Graças ao décimo terceiro
Compra árvore, pisca-pisca
Peru e há quem arrisca
Trufas e até brigadeiro
Champanhe e roupa nova
Tudo serve como prova
E dívida pro ano inteiro

O sentido do natal
Não tem nenhuma ilusão
Serve só pra refletir
Sobre nossa condição
No nascimento de Cristo
Haja ouvido e haja visto
É tempo de compaixão
Tempo de agradecimento
De sanar o sofrimento
Que acomete o nosso irmão

Jesus nasceu com tão pouco
Na sua pobre manjedoura
Sem luzes, ceia ou festa
Salvo a progenitora
Alguns bichos assistiram
E os reis que seguiram
A estrela condutora
Mas hoje o papai Noel
Toma o principal papel
Desta data redentora

Não há lugar pro amor
Pra fé e pra comunhão
O tal saco de presente
Roubou toda a atenção
O sentido material
Tomou conta do natal
E cegou nossa visão
É só festa e bebedeira
Consumo e tanta asneira
Manda a televisão

Caro leitor amigo
Te peço compreensão
Não é que eu seja amargo
Nem tão pouco turrão
O que quero é dizer
Que o natal pra valer
Tem sua orientação
Não é com papai Noel
Pisca-pisca e “dingobel”
Presente ou ilusão

É refletindo e orando
Pelo irmão sofredor
E não torrando dinheiro
Como se fosse um trator
Por toda nação do mundo
Impera esse absurdo
Investimento sem valor
É bom que fique entendido
O verdadeiro sentido
É Jesus o salvador.

Inamar Coelho, Natal de 2009

quinta-feira, 4 de março de 2010

Uma guerra de Canudos

Tela de Tripoli Gaudenzi

Uma guerra de Canudos

I
Numa terra esquecida
pelo poder social,
onde o desafio à vida
é coisa bem natural,
surge Antônio Conselheiro
o beato caminheiro
no pequeno arraial.

Bradando contra a injustiça
pregando o nome de Deus:
não era uma fé postiça
queria empenho dos seus.
E por seu dever sagrado
estava então condenado,
(por isso Jesus morreu).

Já não bastava a secura,
o sol inclemente e a fome,
a esperança obscura,
a mão do céu e do homem:
a tal República surgiu
pra refundar o Brasil
numa arrogância sem nome.

II
Então é bom relembrar
desse caso acontecido
e que carece mostrar
o vencedor e o vencido:
o massacre vergonhoso
de um povo corajoso
de um jeito imerecido.

O caso que vou contar
aconteceu no sertão;
ouve-se muito falar
todo tipo de versão:
periquito me contou
que o governo lá ganhou
por causa do tal canhão.

O governo utilizou
o jornal pra alardear
que o sertão provocou
então devia enviar
a mão de ferro da ordem
sobre aquela desordem
para tudo controlar.

III
A Igreja se sentia
tanto quanto ameaçada:
o povo dela fugia
pra seguir a caminhada
do beato conselheiro
pelo sertão inteiro
numa grande cruzada.

Que pregava contra o mal
do casamento civil;
contra a ação letal
da República do Brasil;
contra imposto desonesto;
contra  escravidão e o resto:
daquela presença vil.

Então o exercito foi lá
cheio de convicção
que iria sufocar
suposta rebelião,
pois os padres reclamavam
e os coronéis conspiravam
o fogo era a solução.

IV
Canudos foi o lugar
onde o embate se deu,
começou em Uauá,
lá o primeiro morreu:
Centena do conselheiro,
10 do exército brasileiro.
(o inesperado aconteceu)

O povo não esperava
aquela tocaia infame:
na hora todos rezavam
pedindo ao santo nome
da santíssima trindade
que acabasse a crueldade
da tirania e da fome.

Os cento e pouco soldados
armados até os dentes
tomaram o povoado
mandados por um tenente.
Recuam pra Juazeiro
estropiados do primeiro
ataque aos penitentes.

V
O povo lutou com faca,
foice, enxada e ferrão,
tora de pau e estaca,
guiada, forquilha e facão
contra bala de fuzil,
Brasil contra brasil:
o sangue regou o chão.

Era novembro dos oitocentos
dos anos noventa e seis;
a guerra principiando
então vinte e um do mês:
a tropa foge assombrada
daquele gente arretada
pelo estrago que fez.

Agora o beato sabe
que a guerra está por vir
e antes que tudo acabe
chama o povo a se unir:
brada com voz de trovão
e o povo com devoção
está pronto pro devir.

VI
A postura de profeta,
o discurso fervoroso,
ao lado da vida incerta
do futuro pavoroso,
o beato era a esperança:
conquistou a confiança
e um séqüito poderoso.

Coronéis perdiam braços,
a Igreja seus vinténs,
a República tinha os passos
ameaçados também:
ela não podia ficar
parada sem se vingar
criticada por alguém.

Canudos era o lugar
que a todos pertencia,
de tudo tinha por lá
e todo tipo aparecia:
roceiro, andante, ex-escravo,
vaqueiro, sabido e parvo,
João, José e Maria

VII
Era então um outro estado
Bom lugar pra se viver,
na igualdade fundado
lá era o fim do sofrer:
podia ir preto e pobre,
de todo tipo, até nobre
fugindo do tal poder.

Poder que cobrava imposto
e nada de mais trazia,
a não ser grande desgosto
de ser mais uma tirania.
No jugo dos coronéis
a seca, e nem um réis
com a fome à revelia.

O governo organizou
uma nova missão:
uma guerra iniciou
cá no tórrido sertão.
Já não bastava a miséria
ainda vinha tal quimera
pra conter revolução.

VIII
Em dezoito de janeiro
de noventa e sete o ano
Quando Antônio Conselheiro
já esperava o tirano:
Febrônio com dois canhões
e mais de seiscentos cagões
que vinham por monte santo.

Fuzis Comblain no sertão
e o sertanejo a punhal
numa guerra sem feição
lutando o bem contra o mal:
o exército exaurido
dez mortos, setenta ferido
era o baile infernal.

Foi a segunda investida
contra o povo do beato:
foi uma batalha perdida
macaco ganhou o mato.
A tropa foge assombrada
pois o beato esperava
aquele ardil tão ingrato.

IX
Aquilo humilhou o poder
e fortaleceu Canudos:
por Febrônio pra correr
com o tal do canhão e tudo,
mas o beato bradava
que a República se armava
com toda a ira do mundo.

A palavra dirigida
ao coração daquela gente
plantava a força regida
por um discurso eloqüente:
tavam todos preparados
de corpo e alma armados
para a morte iminente.

Entrou fevereiro e nada,
só no dia dois de março
a República veio irada
pra fazer estardalhaço:
Moreira Cezar arrogante
o exército confiante
que não haveria fiasco.

X
O coitado se deu mal:
o sertanejo revidou.
Já não era só punhal,
era arma sim senhor,
agora era luta à altura
o beato na postura
de profeta sem temor.

Canudos então venceu
a terceira batalha,
ali mais de cem morreu,
Moreira Cezar levou bala:
ferido saiu levado,
no braço por um soldado,
sem arrogância e sem fala.

Canudos muito mais forte
armado até os dentes,
não dependia da sorte
o séqüito penitente:
Provava para o Brasil
que aquele povo bravio
não se entrega facilmente.

XI
Os jornais alardeavam
o perigo que surgia,
os militares se organizavam,
a República rugia:
agora é pra valer
canudos vai se render
ante a soberania.

O sertanejo esperava
rezando em penitência.
Conselheiro bradava:
de Deus é a eminência,
aquele que ali padece
está pronta a sua messe
sem rogar intercedência.

Veio a quarta expedição
lá pelo final de junho,
marcha em dupla direção,
todos de armas em punho:
mais de seis mil soldados
vindo de dezessete estados
com toda a ira do mundo.

XII

Doze canhões potentes,
seis para cada brigada;
fogo aos penitentes
a hora era chegada,
só não foi outra carreira
porque tinham a matadeira:
a arma endemoniada.

C’um tiro só fez estrago,
era o canhão infernal,
só assim tava vingado
o orgulho nacional:
em outubro tudo acabou
com garra, fé e valor
numa luta desigual.

A matadeira calou,
Canudos tava arrasada:
dos trezentos que sobrou
a cabeça foi cortada
fechando com chave de ouro
a chacina que levou louros
da República vingada

XIII

Não é a historia oficial
que se conta no Brasil,
é uma história marginal
de um povo varonil
que um dia disse não
ao que quis a nação:
fazer o povo servil.

Canudos não se rendeu,
mas lutou até o fim.
Sertanejo lá morreu
por recusar dizer sim
aos coronéis de plantão
à miséria, à escravidão
e tudo se deu assim.

Depois o governo foi lá
e construiu um açude
como se quisesse burlar
a crueldade amiúde
mas quando o verão aquece
lá canudos reaparece
e a verdade se refunde.


Inamar Coelho 24/08/2007