segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sobre a reforma ortográfica


Querido leitor amigo
Com humildade vou falar
Sobre a nova ortografia
Qu’ agora vai vigorar
O que muda e não muda
Se útil ou absurda
É você quem vai falar.

Nosso velho alfabeto
Letras, tinha vinte e três
Com K, W e Y
Agora contam vinte e seis
Nada de novo ainda
Nisso a mudança é bem vinda
No resto eu já não sei.

O trema já não existe
Se for escrever, se ligue
Em pronúncias distintas
Como bilíngue e estilingue
É bom ser bem eloquente
Por aqui a dica é quente
Não deixe que a língua míngue.

Não se usa mais o acento
Nos ditongos - éi e ói
Em palavras paroxítonas
Prestar a atenção não dói
(Eu apoio) não pede apoio
(Heroico) não leia herôico
Já na oxítona, é Herói.

Também nas paroxítonas
Em I e U pós ditongos
Não se usa mais acento
Calma, calma o dia é longo
Feiúra fica feiura
E o Quintino Bocaiuva
Perde o agudo pós ditongo.

Nas palavras oxítonas
O acento permanece
Nos papéis, e nos troféus
No Piauí ele aparece
Não precisa decorar
E nem se desesperar
Lendo você não esquece.

O acento também sumiu
Daquelas letras juntinhas
Dá enjoo mas eu perdoo
Por tanta, tanta regrinha
Eles lêem, escreve leem
Voo, abençoo e veem:
Pode fazer a burrinha.

Calma leitor amigo
Tudo só está começando
Tem regra que só a bexiga
Que aqui vou te mostrando
É o novo português
Pra mim e pra todos vocês
É bom ir se conformando.

Não se usa mais o acento
No par diferencial
Pra saber do para e para
O contexto é essencial
Pôde é passado de poder
Pode é presente, dá pra ver
Exceção é natural.

O mesmo ocorre em por
Pôr verbo é com acento
No plural de ter e vir
Vêm e têm é com acento
Em fôrma e forma, tanto faz
O acento não é demais
No nosso entendimento.

Outro ponto é o hífen
É bom prestar a atenção
Prefixo antes do H
É regra e não exceção
Anti-higiênico e sobre-humano
Só não usa em subumano
Que perde o h na exceção.

Se o prefixo termina
Com vogal a diferente
Da vogal que inicia
O nome que vem na frente
O hífen é eliminado
Escreve tudo emendado
Esta regra é excelente.

Não se usa mais o hífen
Se o prefixo find'em vogal
E o segundo elemento
Não é R ou S, e tal
Escreve-se coprodução
Anteprojeto, autoproteção
Tudo junto é legal.

Mas se o segundo elemento
É R e S, a regra muda
Duplicam-se essas letras
Minissaia e antirruga
O hífen aqui não pode
Se teimar pode dar bode
Estude e não se iluda.

Mas o hífen aparece
Se o prefixo é vogal
Se o segundo elemento
Inicia com mesma vogal
Faça a auto-observação
E com muita atenção
Aprender é natural.

O mesmo se consoantes
Iguais no fim e no início
No início da palavra
E no fim do prefixo
Veja em "super-resistente"
"Superrico" é recorrente
É um acordo prolixo.

Sub-região tem hífen
Você pode constatar
Mas se em qualquer prefixo
Em consoante terminar
O hífen é eliminado
Escreve tudo emendado
Superamigo, interescolar.

Com vice sempre usa hífen
Com ex, pós, e recém
Vice-rei e ex-prefeito
No pré-vestibular, também
Sem-terra, recém-nascido
Não pode ser esquecido
O hífen aí cai bem.

Mas algumas palavrinhas
Surgidas de composição
de tanto uso comum
Perdeu essa tal noção
Girassol não tem mais hífen
Ficou melhor, alguns dizem
Só precisa atenção.

Toda essa reforma surge
Para quem fala português
Não é só para o Brasil
Não se iludam vocês
Angola, Timor e Portugal
Cabo Verde, Guiné Bissau
São Tomé e mais uns três.

Ainda bem que a regra
Só atinge a escrita
E a grande maioria
Não vai ficar aflita
Continue falando bem
E entendendo também
É o que se acredita.

Tudo isso só é bom
Pr'as editoras e tal
Que vão lucrar e muito
Refazendo o arsenal
Dicionários e gramáticas
A coisa fica bem prática
Haja tanto manual.

E como fica o professor
Na hora de ensinar?
Para explicar pro menino
Que nem sabe soletrar,
Que tranquilo não tem quilo
Que isto não é aquilo:
Vai ter é que rebolar.

Mas não há o que fazer
Ta feito, tá decidido
Já corre no mundo inteiro
Ninguém mais ta confundido
Na hora de escrever
Não se deve esquecer
As regrinhas que te digo.

Inamar Coelho 2009

A morte do São Francisco



Meu caro leitor amigo
Quero deixar registrado
A mágoa que tem comigo
Em ver um rio condenado
Mais pela falta ação
Do governo da nação
Intentar golpe malvado

D'um lado um padre zeloso
Do outro o governo insensato
Por um rio que caudaloso
E hoje um velho cansado
Jamais recebeu tal afronta
No estado em que se encontra
Ter o seu curso mudado

Um padre faz greve de fome
E alerta a população
Mas ele é só um homem
Em auto-flagelação
É preciso que entendam
E à sua súplica atendam
Não queiram a transposição

Velho Chico cambaleia
E o ribeirinho sofre
A água que banha a areia
Já não é tão rica nem forte
O rio que corta o sertão
Não merece condenação
Nem tão severa morte

O governo insiste em tal ato
Em um projeto horroroso
Querendo tornar em regato
Quem já não é majestoso
Tirando da boca de uns
Para satisfação de alguns
Fingindo ajudar o seu povo

Com tanto problema maior
Como a reforma agrária
Salário mínimo melhor
Reforma penitenciária
O combate a corrupção
Reforma da educação
E a política monetária

Erradicação da fome
Diminuição da pobreza
Valorização do homem
Respeito à natureza
Moradia aos sem teto
Deixem o rio lá quieto
No seu curso e correnteza

O governo tolo acha
Pela terra seca do norte
Pelo sol, que quente racha
Que o nordestino sofre
Quando falta é investimento
Respeito e implemento
Pro povo mudar de sorte

Não é sangrando o rio
No seu leito moribundo
Ele que alimenta o estio
Mesmo mostrando o fundo
Não é com esse agouro
Despir um pra vestir outro
Que vão salvar o mundo

O nordeste é o lugar
Onde nasceu o Brasil
Seca e fome sempre cá
E o povo sempre bravio
A padecer no esquecimento
Que é o maior sofrimento
Deste povo varonil

O pais se é norte e sul
há a desigualdade no meio
Enquanto um povo quase nu
Outro esbanja sem receio
E o governo em covardia
Prima pela minoria:
Aqueles que têm dinheiro

Para sangrar o vei’chico
Muita gente vai ganhar
Em projetos, acredito
Até sem superfaturar
Empresários levam parte
O governo engenho e arte
E reputação a zelar

Esquece-se que tal asneira
é um intento escuso
Dinheiro de tal maneira
Que só um ser obtuso
Não vê que é tão insensato
Que Investir em tal ato
É algo um tanto absurdo

A água que sair de lá
Do rio que ora agoniza
O que não evaporar
Entre a terra seca desliza
Voltando pro leito da terra
Água não sobe serra
É o que a sensatez avisa

Não se resume o nordeste
Na faixa a ser banhada
Pela água que reste
Se a praga for lançada
O rio vai perecer
E o nordeste vai ver
Que o plano é uma furada

A falta d’agua é problema
Que enriquece o governo
Com projetos desse lema
Gastando dinheiro a ermo
A SUDENE foi um deles
Só serviu para que eles
Escamoteasse o desprezo

O padre clama à nação
Que olha o nordeste de lado
Para que todos em ação
Barrem esse projeto malvado
Para que não matem o rio
São Francisco do Brasil
Em seu leito abandonado

Já basta a Amazônia
Com seus dias contados
A mata atlântica, que vergonha
Nem rastro do seu legado
Agora o rio velho Chico
Que já foi forte e foi rico
Terá pescoço sangrado

Por isso venho pedir
Que parem com tal asneira
Deixem o Chico prosseguir
Na sua rota primeira
Vão fazer reforma agrária
Que é coisa necessária
E não essa besteira

Vocês deviam matar
O rio da desigualdade
Que aqui corre sem par
Em cada campo e cidade
Acho que sangrar o Chico
É idéia de jerico
Com requinte de maldade.

Inamar Coelho
(16/11/2009)