sábado, 23 de abril de 2022

Sobre a Guerra de Canudos



Fonte da Imagem: https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/4863


Sobre a Guerra de Canudos

 

O Brasil registra evento
Ocorrido no Sertão
Quando Antônio Conselheiro
Incomodou a nação
Com seu sonho de igualdade
Ao fundar comunidade
Com trabalho e união

Na trajetória de Antônio
Miséria e exploração
Na seca o sertão fervia
No tempo da escravidão
A imprensa noticia
Que na região havia
Um peregrino em ação
 
 Foi construtor de igrejas
E muros de cemitérios
Levando a palavra de Deus
Falando dos seus mistérios
Foi verdadeiro profeta
Novo sertão arquiteta
Com seu santo ministério
 
Passou mais de vinte anos
Vagando pelo sertão
Sua presença é marcante
Em diversa construção
Falando ao povo explorado
Tinha na mão um cajado
E na mente uma missão
 
Levou esperança aos negros
Aquilombados nas serras
Plantou sonho de igualdade
A quem cativo da terra
Foi evangelizador
Um beato pregador
Todo sofrimento encerra
 
E num incômodo geral
A elite indignada
Buscou logo providências
Quando a República instaurada
Exige que venha a guerra
Aos condenados da terra
A querela iniciada
 
 Encontraram estopim
Numa ação do Conselheiro
Contra a cobrança de impostos
Do governo brasileiro
Incentivando a revolta
Começou reviravolta
Foi eleito desordeiro
 
Retirou a sua gente
Para outra freguesia
Enquanto as autoridades
Achando que o deteria
Organizando volante
Daquele dia em diante
A ameaça crescia
 
Perseguido no sertão
(Elite contra a ralé)
Foi Antônio Conselheiro
Emboscado em Maceté
Pela polícia baiana
No terreiro do Viana
O correu um finca-pé
 
O evento registrado
Em vasta literatura
Nos Sertões e outros tantos
Como informação segura
Um embate ocorrido
Causou tremendo ruído
Por não haver captura
 
Esse embate aconteceu
Nos idos dos oitocentos
De noventa e três o ano
Conforme os assentamentos
Dali saiu pra Canudos
Com sua gente, com tudo
Pra fundar acampamento
 
Aquele grupo sem terra
Ocupou velha fazenda
Abandonada (Canudos)
(Como Os Sertões referenda)
Fundando seu Belo Monte
Trouxe novo horizonte
Numa cidade estupenda
 
 Belo Monte, o lugar
Onde tudo aconteceu
Tinha trabalho e fartura
Como Ele prometeu
Com justiça e igualdade
Verdadeira irmandade
A vida ali floresceu
 
Ficou famosa e atrativa
Muita gente a chegar
Do alto e baixo sertões
Podia o pobre migrar
De riqueza e de fartura
Justificada procura
Belo Monte era o lugar
 
Aquela cidade ativa
Incomodou fazendeiros
Que perdiam mão de obra
Para o líder Conselheiro
Sem gente pra explorar
Resolveram reclamar
Ao governo brasileiro
 
Aquela urbe agitada
Incomodou a igreja
Ao perder muitos fieis
E se vendo na peleja
De disputar o espaço
E ao sair no fracasso
O revide então planeja
 
Muitos padres concordavam
O Beato era uma afronta
Aos domínios da Igreja
Com prejuízo de monta
Enquanto o povo o seguia
A paróquia então teria
Que ao clero prestar conta
 
O Beato era letrado
E de escrita perfeita
Leitor naquele sertão
Sua presença suspeita
Estava muito famoso
Era visto perigoso
Detratores à espreita
 
 Criaram situações
Uma imagem invertida
A imprensa oficial
As ilações consolida
Toda mentira serviu
Pra convencer o Brasil
Que a guerra era a saída
 
O Governo mobilizou
As suas forças armadas
Contra o povo sertanejo
Na história é registrada
Depois de quatro investidas
Numa guerra fratricida
Canudos foi arrasada
 
O povo lutou com faca
Foice, enxada e facão
Contra bala de fuzil
Lutando irmão contra irmão
Quem sobrou foi degolado
O massacre consumado
O sangue regou o chão
 
E assim a guerra se deu
A esperança punida
Com mão de ferro a Ordem
A utopia é vencida
Negros, mulheres e índios
Verdadeiro fratricídio
Canudos foi destruída
 
Pra vencer a cidadela
Foram quatro expedições
Que mobilizaram tropas
De todas as regiões
“Refluxo para o passado”
Foi um crime praticado
Que denuncia Os Sertões
 
Com fuzis e com canhões
Soldados e artilharia
Contra o povo sertanejo
A Matadeira rugia
Atacando Belo Monte
O Estado brutamonte
Golpe final desferia
 
 Dia cinco de outubro
Chegava ao fim no sertão
O massacre de Canudos
Com degola de cristãos
Que lutando pela terra
Sentiu o fogo da guerra
De irmãos contra irmãos
 
Quem restou foi perseguido
A guerra continuou
Contra todo e qualquer
Que posição declarou
A favor de Conselheiro
Passou a ser o herdeiro
Do ódio que se acirrou
 
Ao sertanejo restou
Manchada reputação
“Jagunço conselheirista”
Sofrendo perseguição
Por demonstrar simpatia
Vagueava e padecia
Por todo esse sertão
 
Perpétua condenação
Sem terra e sem utopia
Ao sobreviver à guerra
Não recebeu anistia
Da miséria foi herdeiro
Sem o líder Conselheiro
Novo calvário inicia
 
E da guerra fraticida
Do massacre consumado
Quem não fugiu morreu
Quem ficou foi degolado
Já morto o Conselheiro
Desenterra o corpo inteiro
Para ser decapitado
 
Sem outro significado
Precisavam de um troféu...
O que restou da cidade
Submerso mausoléu...
Canudos foi destruída
Sua gente tá reunida
Com Conselheiro no céu
 
Canudos não se rendeu
Resiste nos corações
Na força do sertanejo
Nas rimas e nas canções
Nos documentos da história
Nos registros da memória
Nos mais diversos sertões
 
Escrita no romanceiro
Em repente e cantoria
Canudos se faz presente
A história desafia
Estudar e debater
Pra conseguir entender
O Brasil de hoje em dia.
 
Inamar Santos Coelho

Compilado em 23/04/2022

terça-feira, 12 de abril de 2022