segunda-feira, 30 de março de 2020

Do vírus a um mundo novo




Caro leitor e amigo
Peço vossa atenção
Para que juntos possamos
Fazer a reflexão
Sobre a vida e o futuro
Nesse horizonte escuro
De filme de ficção

O mundo está em pânico
Com um vírus invisível
Que vem deixando seu rastro
De uma maneira terrível
Afetando a humanidade
Com tanta mortalidade
Em toda classe ou nível

A Covid-19
Agora assola o planeta
Vem expor fragilidade
Põe o mundo na roleta
Pondo fim a hierarquia
Do rico a primazia
A soberba, a etiqueta

Iguala pobres e ricos
Na mesma fila da morte
Aposenta o consumo
Revoga o passaporte
Inutiliza a riqueza
Expõe a nossa fraqueza
Unindo o sul com o norte

Expõe a saúde pública
A escassez de hospital
A falta de investimento
Em saúde é real
Nos obriga a mudar
A outro mundo fundar
Não foi por bem é por mal

Enfrentamos vária crises
Nessa nossa nova era
Que tem feito do Brasil
Tal distopia severa
A crise da pandemia
Política e economia
Eis verdadeira quimera

Outra peste que assola
E causa grande tormento
São as tais das Fakenews
Minando o conhecimento
Onde a maldade conspira
Disseminando a mentira
Sendo do ódio fermento

Muitos mortos pelo mundo
Na China e em Milão
Dão alerta ao Brasil
Sobre a contaminação
Mas a coisa aqui vai mal
Uma confusão total
Dada a polarização

De um lado a ciência
Recomendando parar
O movimento nas ruas
O contato evitar
Do outro um presidente
De maneira negligente
Sem querer acreditar

A disputa é descabida
Ciência e Opinião
Joga com a vida do povo
Ameaça uma nação
Em nome da economia
Desdenha da pandemia
Sem temer a reação

Foram muitos panelaços
Nas capitais do país
Teve até apoiadores
Desfazendo seus perfis
Nas redes da internet
No jornalismo manchetes
Com comentários hostis

Mas ainda tem plateia
Essa ideia absurda
De minimizar a vida
Onde o capital chafurda
Carreatas e protestos
Comportamento funesto
Numa marcha louca e surda

Os ricos estão aflitos
Com a parada geral
Empresários revoltados
Pra não perder um real
Desdenhando das medidas
Relativizando vidas
Na maior cara de pau

Curioso que a elite
Tomada de compaixão
Nunca vista por sinal
Ante os pobres da nação
(Pre)-ocupando-se agora
Se mendigo nessa hora
Vai ter alimentação

(Ainda ontem), lembremos
Eram contra o social
Contra o bolsa-família
Agora em tom maternal
Usam como argumento
Esboçando sentimento
Preocupação fraternal

As pessoas preocupadas
Em não se contaminar
Muitas em isolamento
Sem poderem trabalhar
É um tempo de pavor
Pela rede um só clamor
“O Brasil tem que parar”

Mesmo assim o presidente
Tá sempre na contramão
Do bom senso e da ciência
Fazendo a convocação
Pra todo mundo voltar
Para o Brasil não parar
Que o vírus é ficção

Intentou fazer campanha
Para o Brasil não parar
Mas a Justiça certeira
O obrigou a recuar
Mas ele à revelia
Sem nenhuma empatia
Na rua a pavonear

A mídia toda dizendo
Que sem o isolamento
Faltará caixão e cova
Pra tanto sepultamento
E mesmo assim o seu gado
Se mostra indignado
Contra todo argumento

Desdenha da pandemia
Na contramão da tragédia
Diz ser uma gripezinha
Faz do terror a comédia
Enquanto seu Ministério
Imune ao despautério
Tenta puxar a rédea

Os Estados da nação
Valendo da autonomia
Mandou fechar o comércio
Por conta da pandemia
Deixando aberto no entanto
Mercado, farmácia, banco
A vida do dia a dia

Assim parou o consumo
De roupa, joia e sapato
Perfumes e assessórios
O que importa de fato
É higiene e limpeza
Saúde, comida na mesa
Isolamento sensato

Nada de beijinho no rosto
Ou mesmo aperto de mão
Abraço ou ficar juntinho
Nada de aglomeração
São medidas para evitar
Do vírus proliferar
Essa é nossa condição

Uma coisa sei que é certa
Nosso “mundo” se acabou
Vamos começar do zero
O modelo fracassou
Educar o pensamento
Com novo comportamento
O vírus nos ultimou

É preciso entender
O Brasil não vai parar
O modelo já faliu
Então, e que tal mudar?
Uma nova economia
A partir da pandemia
É preciso iniciar

Que tal a Reforma Agrária
Para esse novo mundo
Garantir direito à terra
Resolvia num segundo
Reduzia nas cidades
Violência e atrocidade
E o abismo profundo

A produção de alimentos
Seria a salvação
Para alimentar a todos
Miseráveis da nação
E o bom uso da terra
Evitaria a guerra
Que está em ebulição

Que tal dividir os lucros
Dos bancos e das empresas
Que exploram nossa gente
Com toda sua crueza
Enquanto parte do país
Sofre e baixa a cerviz
Pra essa classe burguesa

Que tal reduzir salários
E estabelecer um teto
Reduzir desigualdade
Seria um lindo projeto
Garantir saúde e vida
Igualdade e comida
Seria o mais correto

Democratizar o acesso
Aos cursos de medicina
Por toda nossa nação
A produção de vacina
Cuidar mais da nossa gente
Que morre de fome e doente
Em toda e qualquer esquina

Ampliar bolsa família
Para garantir direitos
Taxar grandes fortunas
Seria o ato perfeito
Igualar ricos e pobres
Juntar a ralé ao nobre
“O vírus já deu um jeito”

É preciso consciência
É preciso união
Raciocínio lógico
Olho vivo pé no chão
Leitura e entendimento
Discussão e argumento
Chega de alienação

Se você não concordar
Está em pleno direito
O que tentei dizer aqui
Com intuito de preceito
Para nos fazer pensar
E atitude tomar
Faço com todo respeito

Vou ficando por aqui
Nesse meu isolamento
De corpo e de contato
Mas nunca de pensamento
Poderia dizer mais
Dessas discrepâncias tais
Que se impõem ao momento.

Inamar Coelho
(30 de março de 2020)