terça-feira, 7 de julho de 2009

A chegada de Michael Jackson no inferno e a fuga para o céu.















Morreu o então rei do pop
Aquele cara esquisito
Elevando o tal ibope
E deixando o povo aflito:
ao menos os mais dementes,
ele tinha muitos crentes
em muitas partes do mundo;
dos dois lados da terra,
em alto mar ou na serra,
até no inferno profundo.

E justamente no inferno
onde o rei era esperado
o diabo botou terno,
fez até um penteado,
para um grande mega evento.
Não permitiu contra tempo
ou nada para atrapalhar:
com palco climatizado
camarote estilizado,
tudo pra impressionar.

Afinal é carne nova,
pelo menos nas profunda,
saiu direto da cova,
lá nem esquentou a bunda:
o diabo o esperava
enquanto cantarolava
“Us Bad”, música estranha.
Até segurava “as partes”
o gritinho era arte
numa feiúra tamanha.

Chegando lá no inferno
ele parou assustado
com o diabo de terno
e o mesmo penteado:
Loucamente rebolando
“um rei do pop”, se achando,
e o enxofre subindo;
Elvis Presley enciumado
Jerry Lee todo afobado
Jene Kelly enfurecido.

Aí Michael não gostou
de medonha imitação.
De pronto se revoltou,
ali não ficava, não:
aquilo era uma afronta,
feiúra demais da conta,
Pensando que agradava.
Mas o diabo sem jeito
em um instante refeito
bradou que ele ficava.

Quem você pensa que é?
Figura torpe medonha.
Disse o diabo de pé
sem nem fazer cerimônia:
um cara que não tem cara
até um cego repara;
nem trejeito de homem;
não sabe se é preto ou branco
nem se tanto grito é canto,
pra você não tenho nome.

Michael Jackson corado
deu um passinho pra traz.
O diabo encorajado
e querendo dizer mais,
mas ele tomou coragem
defendendo sua imagem
grande rei absoluto:
Não fedia pelo menos
e chifre muito menos
bradou firme resoluto.

O diabo enfurecido
rosnou alto e feroz,
mas nada tava perdido
logo então tomou a voz:
fedor se tira com banho
e chifre é certo ganho
quando o cabra tem mulher,
mas você é esquisito,
esqueleto de mosquito,
nem bicho sei se tu é.

O rei do pop irado
deu o passinho do “thrilla”
e logo meio afobado
olhou o pai da mentira
chamando-o de rejeitado;
de pano de chão jogado
no monturo do inferno
querendo passar por astro
mas era mais um “desastro”
de penteado e de terno.

E tu? grita o diabo:
de calça meia coronha,
Não se faça de rogado
seu tipo é morde fronha,
com este nariz de boneca
canela de perereca
e bunda de muriçoca,
cara de tubi de velha,
carranca de caravela,
eu sei o que você toca.

Vai de retro satanás:
disse o rei em desvantagem.
Jogou o cabelo pra traz
e soltou a embreagem:
o chamou de pai do lodo,
enquanto o inferno todo
dançava o tal do “be it”,
os demônios de um lado
os finados do outro lado
e cada um mais sibite.

Vamos parar por aqui:
disse o diabo resoluto,
comece agora a cumprir
o que diz o estatuto:
Você morreu em pecado
e já que ta todo ferrado
o que você quer ainda?
Seu lugar é do meu lado
pronto tá acabado:
essa é sua nova vida.

O rei do pop bradou:
cai fora cara de bode,
eu fui um cara bom
comigo você não pode,
vou é já falar com Deus
fique ai com os seus
e com outros que chegar;
espere pela Madonna
seu bicho feio cafona
o céu é meu lugar.

Vamos ver seu mariquinha,
gargalhando o diabo,
com essa sua carinha
você vai ser condenado;
a tudo você negou
a cara, o cabelo, a cor,
vivendo na desregrada;
mexeu com tanta criança
assim até Ele cansa,
a paciência é esgotada.

Você já veio direto,
aproveite e aceite;
aqui eu te dou um teto
fama, fãs e deleite;
todo demônio te adora
e chegou a sua hora
vamos todos te assistir.
Quem estiver enciumado
vai ter que ficar calado
dançar, cantar e aplaudir.

Tem aqui muita criança
também bons cirurgiões,
tenha toda confiança,
aqui tens fãs aos milhões.
No céu ninguém te suporta
lá vão te bater a porta
e se entrar fica em cana.
Você tem cara de demônio:
feio, desajeitado e medonho.
Aqui ninguém te engana.

James Brown torceu o bico
Ray Charles fez cara feia
Freddie Mercury faniquito
Elvis se aperreia,
mas o diabo insiste
no seu intento persiste:
(o mega show e a alma).
O inferno em polvorosa
numa hora perigosa
o diabo pede calma.

O rei do pop pensou
e impôs uma condição,
que de uma vez falou
não aceitando um não:
Só fico se eu for o rei,
ser rei é tudo que sei,
e tu será rebaixado;
vais fazer o que eu mandar,
sem querer te enganar
eu quero ser o diabo.

Satã num ato incontido
Bufou e louco rugiu:
“fila da puta” metido
vai a puta que pariu;
Eu posso fazer-te churrasco
Fazer tu lamber meu casco
Ou trazer teu pai pra cá:
aquele é como eu
lembre quem te bateu
pra tu aprender a dançar.

Promovo teu pai a chefe
dos demônios boiolados
e te promovo a jegue
pra ele andar montado,
seu projeto de defunto.
Nem depois de os pés juntos
tu aprende teu lugar:
passou a vida bestando
fazendo merda e negando
ainda quer me enfrentar.

Eu te entrego a lampião
pra tu saber quem eu sou;
a Hitler, meu capitão
ou ao conde empalador,
pra tu deixar de besteira
falando tanta asneira,
querendo o meu lugar.
Fica por bem ou por mal,
isso é muito natural,
ninguém nunca quer ficar.

Michael no páreo duro,
no embate com o capeta;
Estava ele em apuro,
a coisa ficava preta.
Já estava convencido
do inferno merecido
e tinha de considerar:
ali tinha platéia cativa
e uma eternidade viva,
o melhor era ficar.

No céu aquele povo altivo,
tudo branco era a treva;
Era pior que ficar vivo
viver naquela caterva:
Povo sem agitação
só jejum e oração
Era melhor ser interno,
antes e dali pra frente
Rei do pop eternamente
nas profundas do inferno.

O diabo ficou contente
e logo todo empolgado
o rei do pop finalmente
ficava ali de bom grado.
O “thriler”, mandou tocar
e todo mundo dançar
era o evento infernal:
tanta coisa feia junta,
muvuca e fumaça muita:
estava em casa afinal.

Enquanto o inferno fervia
Michael saiu de mansinho
aproveitou, ninguém via
e fugiu bem rapidinho.
Foi bater lá no altíssimo
chamando pelo santíssimo
implorando pra entrar,
São Pedro já o esperava
dele o céu precisava
para o ibope aumentar.

Quando o diabo notou
que tinha sido enganado
de pronto se engasgou
e ficou todo cagado:
tinha ficado pra traz
o temido satanás
com cara de tabaréu;
o magrelo pop star
tinha ido se arranchar
nas dependências do céu.

Lá foi bem recebido
era garantia de lucro
foi logo convertido
Rei do pop absoluto:
era preciso renovar
a imagem do lugar
que tinha fama de tédio;
novos adeptos trazer
pros lucros fazer crescer
ele era um bom remédio.

Reparou que era bom
pois tinha lá muito anjinho.
Logo afinou o tom
pra fazer o som lentinho
das baladas melosas,
das letras melodiosas,
e de letras sociais.
E o céu acompanhando
Com tanta harpa tocando
e os arcanjos pedindo mais.

A direção já vislumbrava:
o céu não vai ter lugar.
A notícia se espalhava:
o céu enfim vai “bombar”.
O rei do pop no comando
e já o “Thriller” tocando
e São Pedro cobrando ingresso;
lá dentro um escarcéu,
No inferno ou no céu,
Michael Jackson é um sucesso.

Inamar Coelho - 2009