“A degola.
Chegando à primeira canhada encoberta, realizava-se uma cena vulgar. Os
soldados impunham invariavelmente à vítima um viva à República, que era poucas
vezes satisfeito. Era o prólogo invariável de uma cena cruel. Agarravam-na
pelos cabelos, dobrando-lhe a cabeça, esgargalando-lhe o pescoço; e,
francamente exposta a garganta, degolavam-na. Não raro a sofreguidão do
assassino repulsava esses preparativos lúgubres. O processo era, então, mais
expedito: varavam-na, prestes, a facão. Um golpe único, entrando pelo baixo
ventre. Um destripamento rápido. . .
Tínhamos
valentes que ansiavam por essas cobardias repugnantes, tácita e explicitamente
sancionadas pelos chefes militares. Apesar de três séculos de atraso, os
sertanejos não lhes levavam a palma no estadear idênticas barbaridades.” (p.493)
[...]
“A degolação
era, por isto, infinitamente mais prática, dizia-se nuamente. Aquilo não era
uma campanha, era uma charqueada. Não era a ação severa das leis, era a
vingança. Dente por dente.” (p. 498)
(CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Martin
Claret, 2003, p. 493 e p. 498)
Nenhum comentário:
Postar um comentário