quinta-feira, 11 de julho de 2024

Cordel na Escola vai além dos versos


Cordel na Escola vai além dos versos

Produzido para o III Concurso de Cordel em São Gonçalo, pena que não foi classificado.


Querido leitor amigo
Peço vossa atenção
Para falar de Cordel
De Cultura e Tradição
Que hoje está na escola
Por toda nossa nação
 
Se não está deveria
Dada a sua importância
Para os jovens e adultos
E também na tenra infância
Pois aprender com Cordel
Traz saber em abundância
 
Ele que vem da Europa
Direto para o sertão
Do Nordeste Brasileiro
Onde ganhou expressão
Tomou conta do país
Com obras de inspiração
 
Serve bem ao professor
Não só pra Literatura
Cordel vai além dos versos
Da Tradição, da Cultura
No seu bojo cabe tudo
Em saber se configura
 
O Cordel já foi a mídia
Nos tempos lá do passado
Servindo pra informar
No seu folheto narrado
Muitos acontecimentos
Por ele foi registrado

Chamado de ABC
Nas vilas do interior
Nas bibocas do Sertão
Servia de professor
Deixando o povo letrado
O Cordel-educador
 
Hoje usado na escola
Cumprindo a mesma função
Ensinando e divertindo
E levando informação
O Cordel é professor
Nessa nova geração
  
Mas há que esclarecer
Que por puro preconceito
O Cordel não tinha espaço
Nem o devido respeito
Nas letras da Academia
O Cordel não era aceito
 
Nos compêndios manuais
Da escola brasileira
O Cordel não figurava
Como escrita verdadeira
Por ser algo popular
Vista sem classe, grosseira
 
Cordel foi ignorado
Pelo poeta erudito
Por surgir no mei' do povo
O preconceito esquisito
Mentalidade tacanha
No Canon ficou proscrito
 
Nem mesmo o Antônio Cândido
Na sua obra "Formação
Da litera’ brasileira"
Lhe faz a menor menção
Pois não foi canonizada
Não tinha autorização
 
Alfredo Bosi também
Na sua "História concisa
Da litera’ brasileira"
Nem uma nota precisa
Mas a despeito de tudo
O povão a eterniza
 
Salvos Silvio Romero,
Luís da Câmara Cascudo
Entre alguns visionários
De renomado canudo
Deram à lira popular
Algum espaço, contudo
 
O Cordel relatou guerras
Alfabetizou matutos
Foi a imprensa do país
Retratou o povo astuto
Contou histórias de amor
Pelejas do sertão bruto
  
Deu filmes para o cinema
Documentários diversos
"O homem que virou suco"
Surgem desse universo
"Auto da compadecida"
Inspirado texto em verso
 
Despeito da Academia
Sobre tal Literatura
A mais autêntica que há
No seio dessa cultura
Nessa terra brasileira
É da maior estatura
 
Leandro Gomes de Barros
Quando sistematizou
O Cordel Literatura
Quem primeiro publicou
Em folhetos de papel
Bela arte inaugurou
 
Foi esquecido, contudo
De modo proposital
Mesmo tendo produzido
Volume fenomenal
Com inúmeros cordéis
Com temática plural
 
Depois dele muitos outros
Começaram a imprimir
Livretos organizados
Ajudando a construir
A Literatura viva
Que tentaram reprimir
 
Na Academia de Letras
Dos autores Brasileiros
Não há nenhuma cadeira
Nem na parede letreiro
Que se refira ao Cordel
Ou alguém desse celeiro
 
E assim o tempo passa
E o Cordel só resiste
Inovando e renovando
Na Educação persiste
Instrumento de ensino
De real valor consiste
  
Hoje tem Academia
Dedicada ao Cordel
ABLC com insígnia
E registro no papel
E a Universidade
Tem formado Bacharel
 
O IPHAN reconheceu
Patrimônio Cultural
Finalmente o Cordel
Tem o seu lugar formal
É viva Literatura
E orgulho nacional

Na Escola está presente
Limite já não existe
O Cordel tomou o mundo
E na escola resiste
No mundo da Educação
Com os livros coexiste
 
Ao Cordel não há limite
Dada a flexibilidade
Do seu modo narrativo
Sua ficcionalidade
Informativo ou didático
Tem também ludicidade
 
Tem romance, também fábula
Crônica com muito humor
Tem drama e tem comédia
De impressionar doutor
Tem Ciência no Cordel
Do História é transmissor
 
Arievaldo Viana
Deixou seu grande legado
Do Cordel como instrumento
Em um projeto aprovado
Chamado “Acorda Cordel...”
Foi testado e aprovado
 
“...Cordel na Sala de Aula”
Teve alcance e atuação
Fez da Arte instrumento
Para alfabetização
Provando que o Cordel
Tem lugar na Educação
 
Com folhetos a granel
Trazendo a xilogravura
Rima e metrificação
Tem arte nessa feitura
O Cordel na Educação
Em saber se configura
 
E sendo alta cultura
Do orgulho nordestino
Tem expressão no Brasil
Firme, forte e genuíno
E o Cordel na Escola
É instrumento de ensino
 
Sem jamais envelhecer
O Cordel tem seu vigor
Sempre surge um cordelista
Com engenho e com labor
E seu uso na escola
É auxílio ao professor
 
Levar pra sala de aula
O cantador, repentista
Melhor metodologia
Com o Cordel, haja vista
Faz a aula mais perfeita
Um Professor Cordelista.
 
Inamar Coelho, 16/05/2024

 

 

Inamar Santos Coelho, baiano de Euclides da Cunha, Licenciado em Letras pelo Campus XX da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, é servidor público Municipal.  Inamar Coelho é escrevedor de cordéis com textos disponíveis no Blog “Cordelizando na Rede”, no endereço https://escritos-inamar.blogspot.com/ desde 2009, tendo iniciado a paixão pelo cordel na adolescência após o contato nos anos 80 com os textos As proezas de João Grilo e O Apocalipse de Zé Ramalho. Em 2021 ficou com o segundo lugar no Concurso de Cordel ZOORDEL com o tema Animais do Sertão do Céu ao Chão organizado pela Universidade Estadual de Feira de Santana.

 


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