quarta-feira, 14 de julho de 2021

Eleição na fazenda

 






Eleição na fazenda
 
Em um tempo bem remoto
Em que os bichos falavam
Num lugar muito distante
Céu e terra se emendavam
Teve um fato acontecido
Por muito tempo esquecido
Que os mais velhos contavam
 
Em noite de lua cheia
Os bichos se reuniam
No cume alto da serra
Quando os humanos dormiam
Tratavam de todo assunto
Decidindo em conjunto
No acordo chegariam
 
Em certo dia porém
Fizeram reunião
Pois seria necessário
Realizar eleição
Pra presidente dos bichos
Já não ‘guentavam caprichos
De um galo valentão
 
Esse galo era marrento
Só sabia esbravejar
E desde que foi eleito
Não teve paz o lugar
As ovelhas revoltadas
A vacaria inflamada
Muito bicho a se queixar
 
A bicharada aflita
Já perdendo a paciência
Convocar as eleições
Era coisa de urgência
Naquela noite teria
O fim daquela agonia
Princípio da divergência
 
O galo indignado
Vermelho como pimenta
Seguido pelas galinhas
Uma turba barulhenta
Gritando “que absurdo”
É quando o bode barbudo
Toma a fala e argumenta
 
Queridas e companheiras
É bom ter calma e ouvir
A nossa reunião
Existe pra decidir
Vence sempre a maioria
E mais dia menos dia
O galo tem que cair
 
Eu mesmo sou candidato
Na pesquisa tô na frente
O porco pode ser vice
Já me sinto presidente
Vão pendurando o coturno
Será no primeiro turno
Sem lugar pra concorrente
 
O cachorro indignado
Com aquela pretensão
Dizendo ser concorrente
Com melhor aceitação
O seu vice era o jumento
Deixasse de atrevimento
Esperasse a votação
 
Uma tal terceira via
Era a crença do cachorro
Enquanto os bichos coitados
Já nem pediam socorro
Tanta conversa bonita
Não tinha uma cabrita
Sem lhe dizer desaforo
 
Pode ter mil candidato
No final só fica dois
O voto da maioria
Entre galinhas e bois
Bata logo o veredito
Quem será o favorito
Diga agora e não depois
 
A algazarra tomou conta
Com os bichos em polvorosa
O galo ameaçando
Com sua crista raivosa
Incitando as galinhas
Iludidas pobrezinhas
Pela gestão desastrosa
 
Na presidência do galo
Nada então funcionava
Faltava organização
A bicharada cismava
Todo dia um comício
A fazenda um hospício
Cada dia piorava
 
Periquito e papagaios
Assumindo posições
Com urubus e raposas
Nas mais diversas funções
Até morcegos e cobras
Virando mestres de obras
Assumindo comissões
 
Em verdadeira balbúrdia
Ninguém mais se entendia
Cavalo gritou de lá
Pondo fim a baixaria
Tudo calmo de repente
Com voz firme e eloquente
O controle assumia
 
É preciso reverter
A situação precária
A solução sairá
Hoje aqui nessa plenária
Definir os candidatos
Com este saco de gatos
Será parto por Cesária
 
Uma turma em polvorosa
Fazendo aglomeração
Com o pato, o papagaio
A guiné e o pavão
Pulando fora do galo
Para indicar o cavalo
Candidato do centrão
 
O galo já revoltado
Logo gritando possesso
Só teria eleição
Se ele tivesse sucesso
O bode ficou pistola
Só mesmo o dono da bola
Pra querer o retrocesso
 
O bode coçou a barba
Sem deixar o pau quebrar
Gritou em alto e bom som
É melhor adiantar
Logo vai amanhecer
E o melhor a fazer
É a sessão adiar
 
Os bichos então voltaram
Cada um ao seu viver
Mas durante todo dia
Foi possível perceber
Muita articulação
Para que na eleição
Pudesse o galo vencer
 
Promessa pra todo lado
Distribuição de milho
Ampliação de pinguela
Emprego para o novilho
O galo desesperado
Já se via derrotado
Mas com pose de caudilho
 
Atacou uma arara
Que lhe pediu entrevista
Sendo a coitada vermelha
A chamou de comunista
Saiu voando assustada
O defeito da coitada
Estava em ser jornalista
 
Foi marcada a eleição
Sob gritos e protestos
As galinhas mais fieis
Levaram até manifesto
E de nada adiantou
A eleição começou
Sem novidade de resto
 
Com galinha esperneando
Marreco passando mal
Periquitos agitados
No poleiro baixo astral
O cavalo bem tranquilo
O saldo de tudo aquilo
Já sabia do final
 
Ganhando bode ou cachorro
Ele sendo do acordão
Em qualquer um resultado
Teria o seu galardão
Apoiar o vencedor
É melhor que se opor
Não faria oposição
 
O bode foi mais votado
Como previa a pesquisa
Com o apoio dos pavões
A querela finaliza
E por não ter ficha suja
Foi convocada a coruja
Para função de juiza
 
O bode vitorioso
Com o porco companheiro
Se dirigiu ao cachorro
Velho amigo perdigueiro
Pediu colaboração
Pra conter a agitação
Do perdedor presepeiro
 
O galo roxo de raiva
Pediu contagem dos votos
As galinhas agitadas
Parecia um terremoto
Mas logo caiu a ficha
Ao ver a plateia micha
Não tinha tantos devotos
 
E o dia amanheceu
A paz reinou novamente
Do reino dos animais
Até o reino da gente
É possível perceber
Na luta pelo poder
Pouca coisa é diferente
 
Esse textinho rimado
Desse lugar fictício
Arremedando cordel
Com esse tema propício
Faltando certo talento
No enredo que apresento
Foi apenas exercício.

14.07.2021

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