Agroecologia e a defesa da Caatinga
Chego pedindo licença
Pra falar do meu lugar
D’um pedaço do Brasil
De riqueza singular
Este sertão catingueiro
Tema do cancioneiro
Erudito e popular
Patativa do Assaré
Porta voz desse Sertão
Cantando seus lindos versos
Com Catulo da Paixão
O repente a cantoria
O cordel e a poesia
Garantiram difusão
E também Luiz Gonzaga
No forró rica linguagem
O Nosso rei do baião
Ao sertão fez homenagem
O grande Euclydes da Cunha
N’Os Sertões que testemunha
Da Terra com rica imagem
Contudo se faz urgente
Ampliarmos o olhar
Sobre o Bioma Caatinga
Que é esse nosso lugar
Com toda pluralidade
Sua biodiversidade
Conhecer e preservar
Conhecer é necessário
Pra desfazer preconceitos
Preservar mais que urgente
É nosso maior preceito
Aqui a vida é pulsante
Diversa e excitante
E requer nosso respeito
Nosso Bioma Caatinga
Resiste ameaçado
Por falta de entendimento
Segue sendo devastado
Espécies em extinção
Chamam nossa atenção
Reclama nosso cuidado
Ka’atinga é do tupi
Dá nome à vegetação
Chamada de “mata branca”
É a flora do sertão
Resistente adaptada
Muito pouco estudada
Triste constatação
Olham pra nossa caatinga
Com dúvida e indiferença
Pautadas no preconceito
Uma ignorância imensa
Temos biodiversidades
E particularidades
Muito mais do que se pensa
São muitas as ameaças
Q’afligem nosso sertão
Queimadas, desmatamento
Grilagem, mineração
De Deus essa obra prima
Sofre menos com o clima
E mais com a nossa ação
A Caatinga é dez por cento
Do terreno brasileiro
Com vegetação diversa
Baraúna e Juazeiro
Mandacaru macambira
Espécies que nos inspira
O licuri, o umbuzeiro
Temos a Carnaubeira
Da qual tudo se aproveita
A Palma, o Xique-xique
Que o gado bem aceita
Tem plantas medicinais
Com substancias vitais
Uma farmácia perfeita
Contudo há o perigo
Da desertificação
Dada a ação do homem
Com a falta de noção
Ao praticar a queimada
A Caatinga é devastada
Revertida em plantação
E planta feijão e milho
Ou cria gado de corte
Sem manejo a Caatinga
Sendo condenada à morte
Sem a orientação
Técnica, educação
A degradação é forte
Mas sei de uma saída
Com a Agroecologia
Mudar essa realidade
Necessária empatia
Nova técnica e ciência
Para nova consciência
Natureza em harmonia
Com a Agroecologia
É possível cultivar
A lavoura na caatinga
Sem a mata devastar
A lavoura sustentável
Eficiente e rentável
É preciso repensar
A preservação do solo
Das plantas de grande porte
Garante a vida silvestre
É mais vida menos morte
Prioriza a natureza
Ao futuro é certeza
para uma outra sorte
Replantar é necessário
Grandes espécies nativas
Tornando o clima ameno
E nossa Caatinga viva
A fauna vai ressurgir
E o erro corrigir
É melhor alternativa
E volta o coleirinho
A cutia e o preá
A onça, o gato do mato
E até tamanduá
Priquito maracanã
O sofrê e a cancã
E o nobre Carcará
Bem longe do umbuzeiro
Temos que criar o bode
E garantir que os brotos
Germine e se acomode
É nossa obrigação
Impedir a extinção
E deve ser nossa ode
Plantar milho ou feijão
Junto do Juazeiro
Mandacaru barriguda
E também do umbuzeiro
Sem queimar ou devastar
Pra melhor aproveitar
A natureza primeiro
A Agricultura Familiar
Pode nos dar a receita
A cultura sustentável
À natureza respeita
Usando o adubo orgânico
Sem receio e sem pânico
É a maneira perfeita
Essa é só uma visão
Da “ciência popular”
Da sabedoria indígena
De plantar sem devastar
Garantir sobrevivência
Fazer uso da “ciência”
E a Caatinga salvar
Não é mesmo coisa fácil
Alterar as estruturas
Implantar a novidade
Operar a ruptura
É preciso consciência
Estudo e paciência
Mudar a velha cultura
É plantar nas consciências
O respeito à natureza
A produção sustentável
E assumir a defesa
Dessa Agroecologia
Que no sertão concilia
Inteligência e beleza
Uma certeza existe
É possível produzir
No clima do semiárido
Sem precisar destruir
A produção sustentável
É o caminho viável
Pra poder coexistir
O que digo é possível
Tem exemplo a citar
Tem o caso da Ararinha
(Arara Azul de Lear)
Que quase em extinção
Com trabalho e ação
Hoje livre a voar
São asas de esperança
Prova da preservação
Mudança de consciência
Pelo homem do sertão
Hoje vivas majestosas
Na caatinga numerosas
Pra nossa reflexão
Preservando o licuri
Fruto do licurizeiro
Garante para Ararinha
Na Caatinga o seu viveiro
E o homem do sertão
Entende a preservação
Como ato alvissareiro
E este homem do campo
Também tem muito saber
Experiência de vida
E muito pra fornecer
Sabe do clima de olhar
Só precisa escutar
O que ele tem a dizer
Mas precisa de ajuda
Pra mudar a consciência
Conhecer novas maneiras
Com cuidado e paciência
Para a Caatinga dar frutos
A partir dos Institutos
Tecnologia e ciência
É riqueza sem igual
Os IF’s nesse sertão
Garantindo ao sertanejo
Necessária educação
Com a a Agroecologia
Boa nova anuncia
É futuro em construção
A produção de comida
De maneira sustentável
Sem uso de agrotóxico
Orgânica e confiável
É o grande ensinamento
Pra garantir alimento
Em prol da vida saudável
E levando essas ideias
Até o chão da escola
Ensinando as crianças
Nosso futuro decola
E pela cultura e arte
Levar isso a toda parte
Alimentando a cachola
Vou ficando por aqui
Mas deixando esse recado
Em defesa da Caatinga
Lugar do meu agrado
Sabendo que pouco sei
Mas do pouco que abordei
O fiz com todo cuidado
(Inamar Coelho, 19/08/2020)
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