Canudos: uma guerra pela terra
Mais de cento e vinte anos
Um massacre aconteceu
Neste sertão sofredor
Nossa gente pereceu
Tudo por causa da terra
Levando ao sertão a guerra
Um fratricídio de deu
No tempo do Conselheiro
Quem mandava no sertão
Eram os tais coronéis
No jugo da opressão
A seca, a fome, a pobreza
A morte era a certeza
O alento a devoção
Então surge o Beato
Com a sua profecia
Com a palavra de Deus
A esperança anuncia
O tempo era chegado
De Deus era o reinado
Sua fé os guiaria
Naquele tempo a terra
Por toda esta nação
Era riqueza de poucos
Motivo de opressão
O latifúndio mandava
Enquanto o povo penava
Neste sofrido sertão
O Beato peregrinava
E o povo lhe seguia
Rezando e predicando
Aquele grupo crescia
Queria um mundo novo
E ele era pra seu povo
Uma perfeita utopia
O monopólio da terra
Por lei era garantido
O coronel era o dono
E o pobre era impedido
De possuir seu lugar
Tinha de se sujeitar
Ao posto de oprimido
Libertaram os escravos
Sem dar-lhes a condição
Tornando-os indigentes
Em dura situação
Sem o dono e sem a terra
Sua vida se encerra
Em outra escravidão
Os indígenas, coitados
Dos poucos ali restando
Perambulavam na seca
À fome se entregando
Enquanto os coronéis
Reinavam com seus papeis
Tinha todos a seu mando
Surge então o Conselheiro
Com seu cajado na mão
Como um profeta da Bíblia
Contra aquela “lei do cão”
Arrebanha aquela gente
Que o segue dali pra frente
Em tal peregrinação
A multidão reunida
À igreja incomodando
E também aos coronéis
Que logo se articulando
Exigiram providências
Dando ao governo ciências
O exército convocando
Daquela tensão política
Que surgiu o movimento
Criou uma identidade
E o fortalecimento
De lutar pelo direito
À terra e ao respeito
E ao próprio provimento
Fundou então Belo Monte
Uma cidade perfeita
Sendo autossuficiente
Pelo povo foi eleita
Como a terra prometida
Mas naquela nova vida
Um perigo lhe espreita
Era ofensiva ao poder
Dos coronéis do local
À Igreja que perdia
Seus fiéis e coisa e tal
À República recente
Que se lançou ferozmente
Contra aquele arraial
Conselheiro recusava
Os impostos e a cisão
Da República com Igreja
Tachando de “Lei do cão”
Firmou-se como beato
Um grande líder de fato
Trouxe esperança ao sertão
O acusaram de fanático
De louco e de bandido
Inverteram sua imagem
No desejo incontido
De poder fazer a guerra
Contra aquele que na terra
Defendia o oprimido
Mas o povo organizado
Em torno do Conselheiro
Rezavam e trabalhavam
Viviam em clima ordeiro
Plantavam para comer
Criavam para vender
Paraíso verdadeiro
A cidade congregava
Gente de toda sorte
Pobres e penitentes
Sobrevivendo da morte
No Belo Monte viveram
E ali se converteram
Pois a fé era mais forte
A imprensa nacional
Esforçou-se em perverter
Pintando uma imagem
Passível de combater
Notícias diariamente
Acusando o penitente
Sem aquilo proceder
O Exército Brasileiro
Venceu mas foi derrotado
Foram quatro investidas
Estado contra o Estado
O Governo exagerou
A quem restou degolou
E o que restou foi queimado
A história oficial
Precisa ser recontada
E é no chão da escola
Que deve ser estudada
As razões no fanatismo
Monarquia e messianismo
Justifica a luta armada
Em nome do latifúndio
O exército combateu
Para defender a elite
A imprensa intercedeu
O pobre queria terra
O país lhe deu a guerra
Um massacre aconteceu
A sociedade hoje
É a mesma de outrora
Prevalece a vontade
Da elite que ignora
Que o povo organizado
Por justiça motivado
Despertará qualquer hora
Todo e qualquer movimento
Que levante na nação
Por justiça e por direitos
Da elite sente a mão
É do rico a primazia
De poucos a mordomia
Do povo a humilhação
Conselheiro em Canudos
Zé Maria contestado
Zumbi lá em Palmares
Outros tem se levantado
Contra toda opressão
E a história da nação
Apenas tem ocultado
Canudos é nossa história
Ocorrida no sertão
Quando o Brasil mantinha
O povo na opressão
Quando a lei do coronel
Trazia o povo a tropel
No jugo da exploração
Venho chamar atenção
Por isso deixo o recado
Em formato de cordel
Deixando assim registrado
Para que o estudante
Desse dia pra diante
Não se faça de rogado
Inamar Coelho 19/09/2018
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