segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Lampião no Cumbe

 
Fonte da imagem: http://cariricangaco.blogspot.com/2015/12/lampiao-foi-o-melhor-ator-de-si-mesmo.html

Lampião no Cumbe


Um fato da grande saga
Do lendário Lampião
A chegada na Bahia
Merece nossa atenção
O registro da história
Manutenção da memória
Do Cangaço no sertão
 
Com o fero Lampião
A Bahia viu o Cangaço
No Nordeste brasileiro
Era na bala e no aço
Do outro lado do rio
Onde o Cangaço surgiu
Teve lá régua e compasso
 
Após grande estardalhaço
Lá no Rio Grande do Norte
No ataque a Mossoró
Que quase encontra com a morte
Repercutiu na nação
Malogro de Lampião
Sobrevivendo por sorte
 
Como sertanejo forte
Curtindo sol escaldante
Na dureza da caatinga
Seguiu sertão adiante
Na fuga de Mossoró
Sem o bando e quase só
Com cinco cabras restante
 
Pra Bahia doravante
Famintos estropiados
O grupo de quase cem
Se via desbaratado
Segue sua desventura
Lampião triste figura
Vendo o fim do seu reinado
 
Chegando do outro lado
Pisando em solo baiano
A vinte e um de agosto
De vinte e oito era o ano
Trinta e um anos de idade
Com fama de crueldade
O mito pernambucano

No Brasil republicano
Volantes e cangaceiros
Coronéis e explorados
Jagunços e pistoleiros
Vigendo a lei do mais forte
Coisa banal era a morte
Na ação de bandoleiros
 
Sem saber dos paradeiros
A força pernambucana
Seguia o rastro do bando
Rumo a caatinga baiana
Lampião tem cá guarida
Pra começar nova vida
Daquela sina tirana
 
Um episódio ufana
Por um fato admirável
Oleone Coelho Fontes
No seu livro formidável
Nos conta com maestria
No “ Lampião na Bahia”
Um detalhe memorável:
 
Celerado indefensável
Virgulino Lampião
Cruzou Rio São Francisco
Pós dura perseguição
Na Bahia entocou-se
Por vários meses quedou-se
Neste lado do sertão
 
A primeira aparição
De lampião na Bahia
Data do mês de dezembro
Dia quinze foi o dia
Deu-se na vila do Cumbe
Causando medo e deslumbre
Em público aparecia
 
Em clima da calmaria
Andou nas ruas da vila
Sem saques ou violência
Lampião assim desfila
Encontra Luiz Caldeirão
Delegado de plantão
Numa visita tranquila
 
 O Capitão não vacila
Pedindo ajuda em dinheiro
Emitindo bilhetinhos
A diversos fazendeiros
Só um não lhe atendeu
Coronel Dedé Abreu
Enfrentando o cangaceiro
 
Dedé Abreu o primeiro
A sonegar Lampião
Este sem querer conflito
Do dinheiro abriu mão
Não tomou por desrespeito
Talvez por estar satisfeito
Com boa arrecadação
 
Dedé disse, Capitão
O senhor é o culpado
Só por causa do senhor
O sertão anda assombrado
Se tivesse te daria
Mas sou eu quem lhe devia
Tomar dinheiro emprestado
 
Pode até não ter gostado
Mas só riu e se afastou
Simulando nova imagem
Cordial de quem mudou
Deu um giro pelas ruas
Oleone é quem situa
Os relatos de Ioiô
 
Lampião se comportou
Sem atitude agressora
Disse João Siqueira Santos
Ioiô da Professora
Foi visita agradável
Se fez presença amigável
Em conversa animadora
 
Talvez desabonadora
A atitude por receio
Encarcerar os soldados
Pra ter livre o seu passeio
Pra poder dançar e beber
Refestelar-se e comer
Sem o comum tiroteio
 
 Foi à agencia dos Correios
Pra saber de algum jornal
Em que fosse mencionado
Famigerado afinal...
Depois fez de anfitrião
O delegado Caldeirão
Num almoço cordial
 
Essa visita frugal
No Cumbe virou história
Escrita Por José Aras
Passagem demarcatória
De estreia na Bahia
Lampião naquele dia
Numa paz satisfatória
 
Toda a sua trajetória
De crimes e crueldades
Talvez muito amplificada
Com distorcidas verdades
Por extorquir fazendeiros
A quem possuía dinheiro
Ou riqueza em quantidade
 
Foi dada publicidade
À fama de violência
Sem mencionar dureza
Daquela vil existência
Que fez gestar o cangaço
No Brasil em descompasso
Sem justiça e sem clemência
 
O Cangaço é consequência
Da dureza do sertão
Da concentração de terra...
A grande insatisfação
Fez cangaceiros cruéis
Contra ricos coronéis
Fez-se em Rei, Lampião
 
Com volantes de plantão
Virgulino combateu
Perseguições e embates
O Cangaço promoveu
Pelo Nordeste inteiro
De fazendeiros coiteiros
Muito apoio recebeu...
 
Então no Cumbe se deu
A primeira aparição
Em território baiano
Do temido Lampião
Foi chegando e se espelhando
Era vinte e oito o ano
No dezembro de então
 
A costumeira extorsão
Q’a história tem registrado
No Cumbe foi amigável
Com bilhetes enviados
Não houve um só momento
Rixa ou desentendimento
Nenhum crime praticado
 
Lampião teve o cuidado
De ser um homem cortês
Não queria confusão
Por ser a primeira vez
Queria recomeçar
E a Bahia foi o lugar
Que a tentativa se fez
 
Mesmo ante a insensatez
Do firme Dedé Abreu
Que recusou dar dinheiro
Quando todo rico deu...
Foi no Cumbe do major
Véi’ de coragem maior
Que Lampião conheceu
 
Os guardas que ele prendeu
Foram logo libertados
No domingo de manhã
Como tinha acordado
Seguindo rumo a Tucano
No seu percurso baiano
Pela história relatado
 
Aquele cabra malvado
No Cumbe passou em paz
Dessa estreia na Bahia
Não ficou nenhum sequaz
Nem inimigo qualquer
Nem de prendê-lo sequer
Também ninguém foi capaz
 
Dessa passagem fugaz
Ficou apenas história
Que mesmo pouco contada
É importante memória
A obra de Oleone
Que não há quem questione:
É leitura obrigatória.
 
Inamar Santos Coelho - 28/02/2022

Escrito a partir da Obra "Lampião na Bahia" de Oleone Coelho Fontes ( 1999) e da Obra de José Aras "No Sertão de Conselheiro" (2003).

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