Notícia de José Aras
1
O tema deste cordel
Que pretendo registrar
Sobre grande sertanejo
Do qual devemos lembrar
Foi grande historiador
Cordelista e escritor
E ser humano exemplar.
2
Nascido em Lagoa da Ilha
Nas terras de Monte Santo
Na freguesia do Cumbe
Sendo euclidense, garanto
Nos idos de oitocentos
E noventa e três, adventos:
Ele e a guerra, no entanto.
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Em maio o primeiro fogo
Em julho, ele nascendo
No sertão de Conselheiro
Muita coisa florescendo
José Aras e a Guerra
Concedem a esta terra
Fama, nome e adendo.
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Quando a guerra aconteceu
Ele era uma criança
Mas em toda sua vida
Ele a teve por herança
Contando a sua história
Em versos sua memória
Nos relatos da lembrança.
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Foi ele um autodidata
Foi poeta e repentista
Um grande pesquisador
Da sua terra cronista
Sua vida e sua obra
Tendo elogios de sobra
A ser passada em revista.
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Só estudou por dois meses
Num tamborete de escola
Com um professor competente
Mesmo sendo mestre-escola
Sua educação informal
Foi sua vivência real
E os livros na sacola.
7
A leitura na sua vida
Foi presença constante
As andanças no sertão
Começadas desde infante
Sua poesia em cordel
Sua história no papel
Tornaram-lhe um Atlante.
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No seu Cordel “Meu Folclore”
Contou a saga primeiro
Defendendo a história
Do Beato Conselheiro
O outro lado da Guerra
A defesa desta terra
Um olhar crítico, certeiro.
9
A cidade era o Cumbe
Palavra da língua africana
Do Kibundo era “sol”
Mas um nome lhe ufana
Ficou Euclides da Cunha
Sendo esta a alcunha
Do escritor da guerra insana.
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N’Os Sertões tem o relato
Do homem, da luta, da terra
Registrou naquela obra
O crime que foi a guerra
José Aras nessa linha
Faz homenagem certinha
Mas sua ação não encerra.
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A cidade tinha nome
Precisava de um hino
Escreveu a obra prima
Que de arte denomino
Homenageando a terra
Os irmãos mortos na guerra
Um tesouro genuíno.
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Através de seus cordéis
Transformou-se em literato
Ao registrar a história
É historiador de fato
Fez o hino da cidade
Deu-lhe o nome e identidade
Sua memória resgato.
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Resgatar, palavra imprópria
Reavivo ou reacendo
José Aras é imortal
Demonstrar é o que pretendo
Convoco a população
E também a Educação
A sua obra ir lendo.
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A obra “Sangue de irmãos”
Grande historiografia
que enriquece o relato
Vargas Llosa o teria
Foi manancial fecundo
Pra “Guerra do fim mundo”
Isso digo sem ironia.
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“No Sertão do Conselheiro”
Outra obra necessária
História com poesia
Leitura prioritária
Muito tido e pouco lido
À sua leitura convido
É cultura literária.
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“No Sertão do Conselheiro”
Conta a história da cidade
Como tudo começou
Homem de capacidade
De Canudo a Monte Santo
Esse desafio levanto:
Negar-lhe a autoridade.
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Quando trabalhou no Censo
Iniciou coleção
Com material da guerra
Fez um museu no sertão
Era um visionário
Da cultura emissário
Era um homem de ação.
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Literatura e história
Feita por homem da terra
Que registra do seu povo
Sua vida e sua guerra
Contribui pra educação
E convoca pra ação
Quem o segue nunca erra.
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Foi grande pesquisador
No campo da hidrologia
Sabia localizar agua
Como fosse por magia
“Como descobrir cacimbas”
Com esse livro “catapimba”
Sua epistemologia.
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Sua poesia encantou
Grandes nomes da nação
Entre eles Calazans
Não cabe apresentação
É registro sua história
Orgulho sua memória
Seu legado e sua ação.
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Ele tinha a intenção
De poder contribuir
Com a história dessa terra
O orgulho restituir
Temos história de luta
De resistência e labuta
Que ele quis difundir.
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Conhecer José Aras
É nossa obrigação
Reconhecer sua obra
É gesto de gratidão
Por tudo que representa
Que sua escrita ostenta
É a nossa redenção.
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O Colégio José Aras
Tem nome em homenagem
Mas é preciso estuda-lo
Entender sua mensagem
Entender a nossa história
É nossa maior vitória
É nossa melhor bagagem.
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Nosso passado de lutas
Nosso povo é riqueza
Nosso negro nosso índio
Nossa terra de grandeza
Homens como Jose Aras
Personalidades raras
Nossa maior nobreza
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Vou ficando por aqui
Saiba que não disse tudo
Sobre a obra desse grande
Que merece mais estudo
Do pouco que aqui falei
Penso que incentivei
A conhecer, sobretudo.
Inamar Coelho, 03/11/2018
José Soares Ferreira Aras nasceu aos 28 de julho de 1893 no Sítio Lagoa da Ilha, Cumbe, (hoje Euclides da Cunha), na época município de Monte Santo, freguesia da Santíssima Trindade de Massacará, e faleceu em Euclides da Cunha, a 18 de outubro de 1979. Foi autodidata, poeta, repentista, crítico dos costumes em sua terra, pesquisador, prosador e o primeiro a contar em versos decordel e em prosa a história da guerra de Canudos, na visão dos sertanejos, conforme registrou o prof. José Calasans Brandão da Silva, que foi seu hóspede em Bendegó. Foi o idealizador da mudança do nome de sua terra Cumbe para Euclides da Cunha, por Decreto do então interventor Landulpho Alves. Por ocasião da 1ª Semana da Cultura de Euclides da Cunha em 1972 compôs o Hino. Preocupado com as riquezas arqueológicas do Estado e com a memória nacional, organizou o único museu do interior, reunindo fósseis e todo o tipo de armas usadas na guerra de Canudos. Dentre as suas obras mais importantes destaca-se Sangue de irmãos e No Sertão do Conselheiro.