segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A morte do São Francisco



Meu caro leitor amigo
Quero deixar registrado
A mágoa que tem comigo
Em ver um rio condenado
Mais pela falta ação
Do governo da nação
Intentar golpe malvado

D'um lado um padre zeloso
Do outro o governo insensato
Por um rio que caudaloso
E hoje um velho cansado
Jamais recebeu tal afronta
No estado em que se encontra
Ter o seu curso mudado

Um padre faz greve de fome
E alerta a população
Mas ele é só um homem
Em auto-flagelação
É preciso que entendam
E à sua súplica atendam
Não queiram a transposição

Velho Chico cambaleia
E o ribeirinho sofre
A água que banha a areia
Já não é tão rica nem forte
O rio que corta o sertão
Não merece condenação
Nem tão severa morte

O governo insiste em tal ato
Em um projeto horroroso
Querendo tornar em regato
Quem já não é majestoso
Tirando da boca de uns
Para satisfação de alguns
Fingindo ajudar o seu povo

Com tanto problema maior
Como a reforma agrária
Salário mínimo melhor
Reforma penitenciária
O combate a corrupção
Reforma da educação
E a política monetária

Erradicação da fome
Diminuição da pobreza
Valorização do homem
Respeito à natureza
Moradia aos sem teto
Deixem o rio lá quieto
No seu curso e correnteza

O governo tolo acha
Pela terra seca do norte
Pelo sol, que quente racha
Que o nordestino sofre
Quando falta é investimento
Respeito e implemento
Pro povo mudar de sorte

Não é sangrando o rio
No seu leito moribundo
Ele que alimenta o estio
Mesmo mostrando o fundo
Não é com esse agouro
Despir um pra vestir outro
Que vão salvar o mundo

O nordeste é o lugar
Onde nasceu o Brasil
Seca e fome sempre cá
E o povo sempre bravio
A padecer no esquecimento
Que é o maior sofrimento
Deste povo varonil

O pais se é norte e sul
há a desigualdade no meio
Enquanto um povo quase nu
Outro esbanja sem receio
E o governo em covardia
Prima pela minoria:
Aqueles que têm dinheiro

Para sangrar o vei’chico
Muita gente vai ganhar
Em projetos, acredito
Até sem superfaturar
Empresários levam parte
O governo engenho e arte
E reputação a zelar

Esquece-se que tal asneira
é um intento escuso
Dinheiro de tal maneira
Que só um ser obtuso
Não vê que é tão insensato
Que Investir em tal ato
É algo um tanto absurdo

A água que sair de lá
Do rio que ora agoniza
O que não evaporar
Entre a terra seca desliza
Voltando pro leito da terra
Água não sobe serra
É o que a sensatez avisa

Não se resume o nordeste
Na faixa a ser banhada
Pela água que reste
Se a praga for lançada
O rio vai perecer
E o nordeste vai ver
Que o plano é uma furada

A falta d’agua é problema
Que enriquece o governo
Com projetos desse lema
Gastando dinheiro a ermo
A SUDENE foi um deles
Só serviu para que eles
Escamoteasse o desprezo

O padre clama à nação
Que olha o nordeste de lado
Para que todos em ação
Barrem esse projeto malvado
Para que não matem o rio
São Francisco do Brasil
Em seu leito abandonado

Já basta a Amazônia
Com seus dias contados
A mata atlântica, que vergonha
Nem rastro do seu legado
Agora o rio velho Chico
Que já foi forte e foi rico
Terá pescoço sangrado

Por isso venho pedir
Que parem com tal asneira
Deixem o Chico prosseguir
Na sua rota primeira
Vão fazer reforma agrária
Que é coisa necessária
E não essa besteira

Vocês deviam matar
O rio da desigualdade
Que aqui corre sem par
Em cada campo e cidade
Acho que sangrar o Chico
É idéia de jerico
Com requinte de maldade.

Inamar Coelho
(16/11/2009)

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