Querido leitor amigo
Com humildade vou falar
Sobre a nova ortografia
Qu’ agora vai vigorar
O que muda e não muda
Se útil ou absurda
É você quem vai falar.
Nosso velho alfabeto
Letras, tinha vinte e três
Com K, W e Y
Agora contam vinte e seis
Nada de novo ainda
Nisso a mudança é bem vinda
No resto eu já não sei.
O trema já não existe
Se for escrever, se ligue
Em pronúncias distintas
Como bilíngue e estilingue
É bom ser bem eloquente
Por aqui a dica é quente
Não deixe que a língua míngue.
Não se usa mais o acento
Nos ditongos - éi e ói
Em palavras paroxítonas
Prestar a atenção não dói
(Eu apoio) não pede apoio
(Heroico) não leia herôico
Já na oxítona, é Herói.
Também nas paroxítonas
Em I e U pós ditongos
Não se usa mais acento
Calma, calma o dia é longo
Feiúra fica feiura
E o Quintino Bocaiuva
Perde o agudo pós ditongo.
Nas palavras oxítonas
O acento permanece
Nos papéis, e nos troféus
No Piauí ele aparece
Não precisa decorar
E nem se desesperar
Lendo você não esquece.
O acento também sumiu
Daquelas letras juntinhas
Dá enjoo mas eu perdoo
Por tanta, tanta regrinha
Eles lêem, escreve leem
Voo, abençoo e veem:
Pode fazer a burrinha.
Calma leitor amigo
Tudo só está começando
Tem regra que só a bexiga
Que aqui vou te mostrando
É o novo português
Pra mim e pra todos vocês
É bom ir se conformando.
Não se usa mais o acento
No par diferencial
Pra saber do para e para
O contexto é essencial
Pôde é passado de poder
Pode é presente, dá pra ver
Exceção é natural.
O mesmo ocorre em por
Pôr verbo é com acento
No plural de ter e vir
Vêm e têm é com acento
Em fôrma e forma, tanto faz
O acento não é demais
No nosso entendimento.
Outro ponto é o hífen
É bom prestar a atenção
Prefixo antes do H
É regra e não exceção
Anti-higiênico e sobre-humano
Só não usa em subumano
Que perde o h na exceção.
Se o prefixo termina
Com vogal a diferente
Da vogal que inicia
O nome que vem na frente
O hífen é eliminado
Escreve tudo emendado
Esta regra é excelente.
Não se usa mais o hífen
Se o prefixo find'em vogal
E o segundo elemento
Não é R ou S, e tal
Escreve-se coprodução
Anteprojeto, autoproteção
Tudo junto é legal.
Mas se o segundo elemento
É R e S, a regra muda
Duplicam-se essas letras
Minissaia e antirruga
O hífen aqui não pode
Se teimar pode dar bode
Estude e não se iluda.
Mas o hífen aparece
Se o prefixo é vogal
Se o segundo elemento
Inicia com mesma vogal
Faça a auto-observação
E com muita atenção
Aprender é natural.
O mesmo se consoantes
Iguais no fim e no início
No início da palavra
E no fim do prefixo
Veja em "super-resistente"
"Superrico" é recorrente
É um acordo prolixo.
Sub-região tem hífen
Você pode constatarMas se em qualquer prefixo
Em consoante terminar
O hífen é eliminado
Escreve tudo emendado
Superamigo, interescolar.
Com vice sempre usa hífen
Com ex, pós, e recém
Vice-rei e ex-prefeito
No pré-vestibular, também
Sem-terra, recém-nascido
Não pode ser esquecido
O hífen aí cai bem.
Mas algumas palavrinhas
Surgidas de composição
de tanto uso comum
Perdeu essa tal noção
Girassol não tem mais hífen
Ficou melhor, alguns dizem
Só precisa atenção.
Toda essa reforma surge
Para quem fala português
Não é só para o Brasil
Não se iludam vocês
Angola, Timor e Portugal
Cabo Verde, Guiné Bissau
São Tomé e mais uns três.
Ainda bem que a regra
Só atinge a escrita
E a grande maioria
Não vai ficar aflita
Continue falando bem
E entendendo também
É o que se acredita.
Tudo isso só é bom
Pr'as editoras e tal
Que vão lucrar e muito
Refazendo o arsenal
Dicionários e gramáticas
A coisa fica bem prática
Haja tanto manual.
E como fica o professor
Na hora de ensinar?
Para explicar pro menino
Que nem sabe soletrar,
Que tranquilo não tem quilo
Que isto não é aquilo:
Vai ter é que rebolar.
Mas não há o que fazer
Ta feito, tá decidido
Já corre no mundo inteiro
Ninguém mais ta confundido
Na hora de escrever
Não se deve esquecer
As regrinhas que te digo.
Inamar Coelho 2009