Lembrando a feira do rolo

 

De tédio aqui ninguem morre!

 

Surfando no absurdo

 

Margarida Segue viva

 

Margarida Maria Alves, nascida em 5 de agosto de 1933, filha de camponeses e descendente de indígenas (por parte do pai) e de negros (por parte da mãe), teve a vida ceifada a mando de fazendeiros em 12/08/1983 na frente do seu marido e seu único filho.

Ditadura da Beleza!

 
Ditadura da Beleza
 
As notícias dos jornais
Nos trazendo estranheza
De intervenções estéticas
Alterando a natureza
Ditando harmonização
Mais pra demonização
facial sem boniteza
 
Ditadura da Beleza
Que faz cometer loucura
Com peitos de silicone
E bunda de tanajura
Tem mulheres deformadas
Por intervenções erradas
Lhes tirando a formosura
 
Estica, corta, costura
Preenche, suga, corrige
Ninguém liga pro perigo
Quando a ditadura exige
Pois o padrão da beleza
Mesmo causando estranheza
Nem assusta nem aflige
 
A bizarrice que vige
Faz gente entrar de gaiato
Gastando o olho da cara
E achando até barato
Mulher fazendo fusão
De si mesma com Fofão
Sem mais se ver no retrato
 
Modelo bico de pato
Com sorriso do coringa
Ganhando até apelido
De boquinha de moringa
Depois que botou botox
Abusando dos retoques
Querendo posar de gringa
 
Cada beiço uma seringa
Pra ficar arrebitado
Gastando um batom por dia
Pra ficar bem buzuntado
De fazer bico não cansa
Depois da total mudança
É pose pra todo lado
 
O povo impressionado
Com a boca avantajada
Da beiçola de botox
Situação comparada
Ao inflar do baiacu
De besouro cabuçu
Depois de três ferroada
 
A boquinha de lombada
Com o tal preenchimento
Tal e qual duas salsichas
O exagerado aumento
Que chega a causar gastura
Dá ginge uma boca dura
É o assunto do momento
 
Se bate arrependimento
A desgraça já tá feita
Segue a vida deformada
Simulando a satisfeita
Vai recusando conselho
Só escutando o espelho
Que está linda perfeita
 
E dessa nova colheita
De gente modificada
Chegará talvez o dia
Após toda derrocada
Quando tudo se acomoda
Que estará em plena moda
Quem nunca mexeu em nada.

31/07/2023