Três
vezes Canudos
A primeira Canudos conhecida
Era velha fazenda abandonada
Pela seca, duramente castigada
Reduto de população sofrida...
O sol, sobre a caatinga retorcida
No vale protegido pela serra
Afastava o Brasil daquela terra
Que vivia do divino provimento
Não sabiam naquele aldeamento
Do destino que viria com a guerra
Belo Monte, utopia construída
Pelo engenho do Santo Conselheiro
Comuna do beato alvissareiro
Com a massa camponesa reunida...
Quimera sertaneja destruída
Quando ainda no seu alvorecer
Pela ira dos donos do poder
A guerra sobre o fausto vilarejo
O Brasil massacrou o sertanejo
Que lutou até o fim sem se render
A segunda Canudos foi erguida
Pela força dos seus sobreviventes
Sertanejo se reúne novamente
Dos escombros, a cidade é erigida
Como a Fênix das cinzas, ressurgida
Para ser em seguida aniquilada
Dessa vez a cidade é condenada
Pelas águas, submersa num açude
A utopia embargada amiúde
Novamente destruída, inundada
A terceira Canudos sobrevive
No lugar onde foi Cocorobó
O sonho que era rijo se fez pó
Embora a memória o reative...
Lá erguido pelo sonho, inclusive,
De Canudos, um grande Memorial
Que transforma o Belo Monte imortal
Utopia se renova e resiste
Nesse grande país que ainda insiste
Em manter o modelo desigual
Conhecer o passado é importante
Para compreender nosso presente
Projetar um futuro diferente
Quando ainda a miséria é flagrante...
Belo Monte um exemplo retumbante:
Um povo massacrado pela guerra
Quando apenas lutava pela terra
Perseguido no direito de existir
No Brasil só nos resta resistir
Na guerra sem fim que não se encerra.
Inamar Coelho, 24/02/2021